Para que Serve a Arte

Sempre fui um indivíduo apaixonado pelo interior. Cidades pequenas, com sua tranqüilidade, calor e praticidade nas relações sociais, encantam. É você demorar quarenta minutos na padaria porque, assim como o pão para o corpo, o alimento para a alma é absorvido em agradáveis conversas com a vizinha que te conhece desde a infância ou com o pai do amigo que se mostra desolado com a atuação do time no domingo.

Mesmo com estes fatores, para mim positivos, não dispenso um banho freqüente de capital. Não para me vislumbrar com os neons dos outdoors ou com as tentações dos shoppingss, mas por um bem valiosíssimo e que só uma grande cidade pode oferecer; o anonimato.

Era um final de tarde barulhento e tumultuado. Estava de passagem em BH quando resolvi, sozinho, tomar um expresso num Café e ao mesmo tempo bisbilhotar alguma novidade literária que viria a ter por ali. Ao meu lado, duas moças e um rapaz discutindo o porquê de irem a um evento artístico que não faço a menor ideia qual seja. A única frase que o abelhudo anônimo aqui captou foi a do cara, questionando para que arte. De certo, foi obrigado a acompanhar uma ou as duas mulheres.

Não seria preciso, mas entremos no cerne da questão de quase todos os povos (se não todos) terem suas manifestações artísticas, através dos tempos e lugares. Seja nas pedras, madeira, papel, som, a arte acompanha o ser humano e é fundamental para que malhemos algo que não é músculo, mas é fundamental para nossa vida; o cérebro. Sentir, colocar-se no lugar dos outros, reconhecer-se em uma música, em um quadro, num poema é tão importante quanto desenvolvermos altas tecnologias.

E aí? Arte tem função? Se função for convencer uma pessoa a desembolsar três anos de trabalho por causa de um novo modelo de carro, se função for encher nossos bolsos pra gente fingir que é feliz por comprar o que não precisa, se função for comer, beber e dormir, a arte não tem função porque em sua essência ela não necessariamente realiza ofícios práticos, não enche tubos de ensaio, não molda ligas metálicas nem constrói a casa de ninguém.

Só que a arte tem o poder de debater nossas maiores angústias, faz com que vivenciemos aquilo que tememos, só que de mentirinha. Mas é como se tivéssemos vivido, adquirimos com isso uma experiência de vida cada vez mais rara porque, via de regra, não é ofertada nas vitrines de loja nem nos butecos de esquina.

Não é preciso ser o Romeu, a Julieta, o Tristão ou a Isolda para se conhecer uma grande paixão, não é necessário ter vivenciado a 2ª Guerra para sentir na pele o holocausto, basta assistir “A Lista de Schindler”, nem é preciso estar angustiado para sentir a aflição, leia “Angústia”, do Graciliano Ramos. A arte traz um faz de conta gostoso ao ser humano porque sacode seu lado mais valioso e às vezes tão esquecido, o sentimento.

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 03/12/2011
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