SEM SENTIDO
Sem sentido
Dedicado a Filipa Saanan
Belvedere Bruno
Naquela manhã, quando o telefone tocou, atendi contrariada, certa de que se tratava de mais uma investida do telemarketing. Porém, a voz do outro lado me surpreendeu. Era Lúcia Helena, amiga de longa data, que vinha falar da alegria de ter trazido Mariana para a tão decantada antologia feminina, planejada há dois anos, e que, enfim, sairia neste mês de dezembro. Os temas eram polêmicos e, agora, somando- se à força incomum dessa escritora, sentíamos que o projeto seria a realização dos nossos ideais.
Empolgadas, iniciamos os preparativos, e o dia a dia era letras para lá, letras para cá, emoções e expectativas.
Eis que, em meio às alegrias, surgem nuvens. Insegurança e medo começam a rondar o grupo . Havia sentenças, que, particularmente, optei por não aceitar, na chamada fuga da realidade.
Por que Mariana?
Desejava conhecê-la verdadeiramente, pois nosso contato sempre fora rápido e virtual, embora admirasse sua coragem ao expor seus pontos de vista. A cultura que acumulara nos anos em que vivera no exterior era incomum.
Enfim, o veredicto. O tempo era breve. No entanto, ela continuava a produzir, talvez procurando desvios das rotas tortuosas .
Sondas, transfusões e morfina, onde antes havia projetos e alegrias. Consternações.
Mil vezes, em rompantes de fúria, blasfemei. Que desígnio é esse, meu Deus?
Quando os olhos se fecharam e as ideias. pareceram dar trégua àquela mente em ebulição, em seu rosto transpareceram possibilidades de infinitos voos.
E cá estou, nas minhas divagações. Por que não apertei suas mãos, não acenei adeus, não acreditei na partida?
Onde ficou seu último grito contra as injustiças, Mariana?
Dói meu peito. O coração parece lacerado. O nunca mais é demasiado cruel para se aceitar passivamente.
Em que mundo, em que espaço e, em que tempo, poderemos nos encontrar?
Adeus, Mariana. Saudade do que não vivi.