A simpatia é uma zebra
Há aqui em Brasília alguns micro-ônibus (ou seria microônibus? microhônibus?) que são popularmente conhecidos como zebrinhas. E chamam-se assim porque são vermelhos com listras brancas – eu sei que as zebras não têm essas cores, mas a semelhança está nas listras. E como são ônibus pequenos, levam ainda o diminutivo no nome.
Zebrinhas. Há ainda outras particularidades: não existem cobradores nas zebrinhas. Até porque, não haveria espaço para eles. Quem recebe o dinheiro da passagem é o próprio motorista – que frequentemente se vê obrigado a dar o troco enquanto dirige.
Em seguida, podemos passar pela catraca e nos acomodar. É nessa hora que, mais de uma vez, percebi pessoas olhando intrigadas para o final do ônibus. Isso porque perceberam que não existe outra porta. A única porta de uma zebrinha é a de entrada.
Na hora de sair, é preciso passar pela catraca novamente, agora para o outro lado. É comum que as pessoas estejam querendo sair justamente no momento em que outras estão querendo entrar. Mas até que, de um jeito ou de outro, elas conseguem se entender.
Algumas pessoas sequer chegam a passar para o lado de lá da catraca. Percebem que não há mais lugares vagos e ficam por lá mesmo, na parte da frente do ônibus. O motorista deixa, desde que virem a catraca – é preciso registrar que fizeram a viagem.
Não é apenas no nome e no tamanho que a zebrinha é simpática: as pessoas também se tornam mais acessíveis dentro dela. Isso fica claro no momento de descer do ônibus, quando boa parte delas – muita gente mesmo – decide agradecer ao motorista. Alguns vão ainda mais além e desejam a ele um ótimo dia de trabalho.
E isso é feito por pessoas que, afinal, pagaram para receber aquilo que o motorista está oferecendo. Não é nada mais do que o seu serviço. Ainda assim, as pessoas sentem vontade de agradecer e dizer alguma coisa simpática ao motorista. E dizem.
Por vezes, o passageiro nem puxa a cordinha. Vai logo passando de novo a catraca e fica ao lado do motorista. “È nesse mesmo?”, pergunta, querendo saber em qual parada irá descer. A pessoa confirma, agradece, e o motorista diz retribuiu com outra simpatia.
Está claro que não é isso que acontece nos outros ônibus – aqueles com tamanho normal, com cobrador e com mais de uma porta. Na verdade, não é o que acontece na maior parte dos lugares: a simpatia, quando acontece, é sempre inesperada. É sempre uma zebra.