Mata-me (monólogo)

Lágrimas caem de meus olhos, sempre tão insistentes,

Mas não sei o porque.

Qual o grande compositor que nunca sofreu por amor?

Este sentimento novo e estranho

Será que meu coração agüenta?

Diga-me, por que choro se tenho amor correspondido?

Será que ainda residem duvidas quanto a isso?

Depois de tudo o que dissestes?

Ou então seja porque o sentimento não é tão grande assim?

Besteira!

Choro!

Mas choro de raiva, de paixão...

Anda! Transforma-me em pedra e eu não sofrerei mais!

Arranque de meu peito esse sentimento!

Mate-me!

Bata-me!

Deixe-me inconsciente e sem memória!

A minha voz se cala diante de tudo,

Emoções são expelidas para fora de minha pele.

Culpado!

Culpado quem me fez amar assim,

Subjugado pelo mundo.

Fazem-me sentir ódio!

Por que me separam se posso ser feliz?

Inveja?

Vivam suas vidas e deixem a minha!

Cala-te!

Tu é que tens a boca mais suja,

Não deveríeis falar de mim!

Já lhe disse!

Arranca de mim esse sentimento!

Arranca-lhe agora!

Não suporto mais isso tudo.

Livros para ler enquanto sofro?

Absurdo!

Cada vez que me destraio,

Lá vem ele no pensamento.

Outrora fosse...

Eis aqui que desabafo,

Com lágrimas rolando por toda a face

E banhando o papel, com gotas de um amor que se proíbe.

E agora? O que fazes?

Depois de conseguirdes o que querias,

Diz-me,

O que ganhas com isto?

Ver a infelicidade dos outros lhe agrada?

Valeu a pena?

Mesmo tendo separado dois corações apaixonados,

Não vais ter o mesmo amor por ti,

Pois o guarda para mim!

Desgraçada!

Tu se juntardes ao lado do mal,

Contra teus amigos!

Criança tola!

A desgraça do mundo ainda há de cair sobre tua cabeça!

Infelicidade eterna tu terás,

Pois aqui se faz, aqui se paga, ingrata!

Diz-me agora o que há de acontecer comigo,

Pois já sinto o sangue na garganta.

E me diz

Valeu a pena?

Sofro por antecipação

Tenho amor correspondido...será que correspondo?

Porque choro então?

Diga-me logo de uma vez!

Mundo injusto!

Tu só pensas em teu próprio umbigo!

Povo cruel!

Julgam sem perceber o mal que causam!

Não estou mais agüentando...

Minhas feridas não mais cicatrizam!

Minha voz vai se calando,

Meus ouvidos ensurdecendo,

Os olhos, cegando,

Os órgãos falhando...

Mas saiba...

Não haveria de melhor coisa, tu fazerdes o que fez.

Matar-me foi um grande favor...

Porque assim terei,

Eternamente,

O amor de quem tu amas para mim.

E tu conviverás com esta culpa e infelicidade

Por até o fim dos teus dias...

Quando tua boca se encher de terra calando tua voz,

Teus ouvidos se entupirem de vermes,

Teus olhos comidos por urubus

Juntamente com teus órgãos em decomposição,

Servindo de atrativo para os vermes.

Dando-nos a morte,

Tu assinas para sempre a tua infelicidade.

Pois nos amaremos eternamente,

E tu saberás o que é não ter o amor de quem se quer...

Agora vou-me,

Pois o outro plano me chama...

Enquanto nos amarmos nos céus,

Tu terás a solidão eterna no inferno!

Mata-me logo!

O que ainda espera?

Não agüento mais isso!

Acaba com esse tormento...

Encrave um punhal em meu coração,

Prega-me numa cruz,

Enforca-me,

Perfura-me com uma lança envenenada bem no meio do peito...

Qualquer coisa, mas acaba com isso!

Destruís a mim,

Ao meu mundo,

Mas nunca conseguirá destruir o meu amor!

Pare de julgar o que os outros fazem,

Pensa em tua podre vida.

E cuida dela,

Para que não fique ainda mais podre,

A ponto de não saber o que é o palpitar de um coração...

Raquel Donola Victorio
Enviado por Raquel Donola Victorio em 05/01/2007
Reeditado em 06/01/2014
Código do texto: T336857
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