O DIREITO QUE NÃO TÊM
Nascida Maria do Rosário, bem feita de corpo, rosto bonito, assim que a tarde cai, ela deixa o barraco e desce o Morro da Rocinha, transformando-se em Margot; toda produzida aparenta uma idade bem inferior a real, 32 anos.
Na garupa de uma moto chegou ao calçadão de Ipanema, onde iria iniciar o seu trottoir; logo se deparou com Suélen e foi tirar satisfação com a novata, eis que, segundo sua lógica, “trabalha” ali há mais tempo e não aceita intrusa a lhe fazer concorrência.
Margot foi incisiva no seu argumento, todavia, Suélen retrucou e disse que dali não arredaria o pé, e por consequência de sua teimosia foi atingida no abdômen por uma tesourada desferida pela concorrente, objeto que sempre trazia na bolsa.
Suélen foi socorrida e levada ao hospital com risco de morte; Margot foi presa em flagrante e levada para a delegacia.
Em seu depoimento a agressora alegou que há muitos anos exerce ali o seu ofício e que aquela faixa do calçadão lhe pertencia, sentiu-se esbulhada por Suélen, a quem não conhecia e não tinha o direito de ocupar aquele espaço e “pegar” os seus clientes.
Algumas pessoas, tais como, camelôs, lavadores de carros, mendigos, os temíveis e terríveis flanelinhas e outros mais, pelos simples fato de terem como base um logradouro público, se investem de poder e se acham proprietário do bem da coletividade. Defendem o espaço público ocupado com unhas e dentes como se fosse sua propriedade e ai de quem tentar
pelo menos turbar a sua área.
Se quiserem prova, tentem estacionar o seu carro em frente à Matriz onde os lavadores de carros atuam. Eles chegam em bando e lhe expulsam.
Fico imaginando os amigos Manoelzinho Chave de Fenda e Zezinha Pé Frio, que, há anos gravitam no entorno do Café Galo e de tanto ocuparem o banquinho de ardósia ali existente, já criaram limo; e se eles num delírio esquizofrênico resolverem exercitar, o direito que não têm, do instituto do usucapião?