"O primeiro intercâmbio"
O primeiro intercâmbio é pura adrenalina. Não importa o cansaço das noites insones, da viagem longa, dos estudos prementes, nada importa, é sempre especial. A Escola Dante Alighieri de Castelraimondo, no centro da Itália, na região Le Marche, foi o meu destino e de mais 50 alunos no início de 2005. Depois de chegar em Milão, parti de trem, no domingo dia 07 de janeiro, para essa pequena cidade.
- Buon giono! Buon giorno! – receberam-me calorosamente o professor Ângelo, a diretora Gabriela Poeti, Sr.Pier Paolo e Geórgia, às 7 horas da fria manhã de três graus negativos. Logo depois, chegou o restante do grupo via Roma. Eram muitos abraços de boas-vindas, sorrisos, malas e vontade de curtir coisas novas.
Fazer um intercâmbio é mergulhar noutra cultura, e a maioria de nós descendentes de italianos tinha motivos de sobra pra se emocionar. Despimo-nos de preconceitos e abraçamos a tolerância. O impacto de outra cultura faz com que se quebrem paradigmas, novos conceitos e ideias compõem um novo “cosmos”. A cidade já se habituara ao viço dos estudantes estrangeiros. Tínhamos aulas geralmente pela manhã, e de tarde passeávamos pelas cidades vizinhas.
Na minha classe, o Prof. Ângelo se esforçava pra nos fazer entender as nuances da língua de Dante, novas sequencias de vogais e consoantes soavam docemente em nossas mentes alegres. Ele estudava o português e tornou nosso aprendizado bem mais fácil. Na sala: um inglês, um sueco, um argentino, um costa-riquenho, e onze brasileiros. E, um mosaico cultural igualmente rico compunha as outras classes de aula da escola.
Já na tarde de terça-feira fomos conhecer a famosa Universidade de Camerino, fundada em 1336, que foi e ainda é uma das mais renomadas Faculdades de Direito da Itália. A cidade fica no topo de uma colina e é super-aconchegante. No subsolo da Instituição encontram-se – pasmem! – relíquias dos tempos romanos, blocos admiráveis de tempos remotos.
Nossos anfitriões Sr.Casoni e Sra. Pina festejaram nossa vinda: “Gelato Party”. Uma grande festa ao som de música pop, vinhos e “tiramisù”; dançamos e nos refestelamos animadíssimos aquecidos na lareira da mansão. Eles amavam aqueles ares estudantis e, em particular, a brasilidade alegre que ultrapassa fronteiras.
Dias seguintes: estudos, debates, jogos de palavras e exercícios.
No domingo a escola nos levou a grandiosa Roma. Que extraordinárias construções antigas!... muros, relíquias, museus, ruas de pedras milenares, igrejas e catedrais de encher os olhos!... tudo é muito especial. - Olhe só!... – exclamou Rosalba – que romano maravilhoso!...- fez um gesto com o olhar – bate uma foto de mim com ele, sim? – nem piscou... e foi direto pro homem que posava de romano com as turistas cobrando cinco euros. Outros “romanos” se juntaram e a pegaram no colo pra êxtase da nossa colega balzaquiana. Fiz as fotos e caímos na risada. A foto Polaroid foi exibida exaustivamente a todos os colegas da turma,... a amiga ria numa faceirice só.
No Residence, em nosso apartamento com sacada, fazíamos as refeições em comum acordo. Comprávamos os alimentos num mercado que, para nossa surpresa, vendia as sacolas plásticas, já naquela época: a preocupação em reciclar era constante. Provamos as deliciosas massas italianas, os queijos e os presuntos, entre outras iguarias.
Novamente um grande passeio: Firenze, berço do Renascimento. A secretária Ana Poeti foi nos explicando a importância dessa belíssima cidade. Todos ficamos boquiabertos com o esplendor das praças com suas belas estátuas, da Galeria degli Ufici e dos Museus de Arte. Ao pôr do sol tomamos o rumo de volta pra Castelraimondo. Depois, estudos, debates e mais estudos.
Lia, Bia, Rosalba e eu passamos a tarde nos preparando pro jantar típico. Com os amendoins e o açúcar mascavo que Rosalba trouxe na mala fizemos quitutes pra turma. Levamos pra festa no hall da escola cuja mesa estava forrada de delícias diversas de diferentes países: o grupo da Costa Rica nos brindou com “bananas-de-são-tomé” fritas; os colegas do Rio de Janeiro fizeram rabanadas deliciosas; a turma de Porto Alegre fez bolo de milho e pinhão; outro grupo trouxe pipoca, quentão e maria-mole, e outros compraram tortas doces e salgados. Nosso grupo ganhou um Limoncello e festejamos!... Valeu! Nos dias seguintes saboreamos aquele delicioso licor italiano.
Passeios a Matélica, a Urbino, a Perugia, a Fabriano, a Assisi, ao Parque Nacional dos Montes Sibillini, a Macerata, a Gubbio, a Porto Recanati, as Grutas de Frasassi, a San Severino Marche, à Loreto com sua belíssima Basílica, encheram-nos de alegria e encantamento. Tudo nos enchia de felicidade.
Pedimos e a escola nos permitiu ir a uma grande discoteca: Lola di Porto Recanati. Vestimo-nos com nossas grifes (!!!) mais belas, morrendo de frio, pois a gente queria arrasar. – Não acredito que você vai levar isso?! – falei pra Rosalba – claro, que sim! – me disse rindo. Ela tinha trazido (pasmem!) uma garrafa de “51” na mala, e depois deitara o líquido numa garrafa d’água San Benedetto... imagine, só?! Como vestíamos casacos pesados (fazia – 5 graus!) foi fácil esconder a “garrafinha”. Entramos. No interior, um luxo só. Achei um exagero umas moças meio peladas sobre altas mesinhas sambando e dançando sensualmente. Os tempos mudaram... Rosalba deu a garrafa pro colega da Costa Rica experimentar: - “Tequila?!!!”... ele gritou – “vocês trouxeram tequila?...” - não, não é propriamente isso... Passamos horas dançando e nos divertindo pra valer... afinal, estávamos matando saudades de um tempo distante.
Tivemos a exibição de filmes, entre os quais: “Mediterrâneo”, “Polvere di stelle”(Pó de estrelas) e “I cento passi” (Os cem passos); um documentário sobre o poeta “Giacomo Leopardi”, e outro sobre “Il risorgimento”. Mais debates, mais estudos sobre os diferentes dialetos, teatro e exercícios de gramática em cada sala.
Cinco horas da madrugada gelada embarcamos pra Veneza. Felizes!... e como! Éramos um grupo de estudantes ávidos por passear pela Sereníssima. Pelas nove horas já estávamos lá na Praça São Marcos. Entramos na Catedral S. Marcos com nosso guia nos explicando a sua história, as obras de geniais pintores venezianos, as catedrais seculares, os estilos das construções, as inúmeras pontes e a importância de Veneza para Oriente e Ocidente. Voltamos extasiados. (às 11 hs da noite chegamos ao Residence).
Mais estudos, mais palestras e mais debates sobre a cultura italiana.
- “Vamos lá... cantando!”... pediu o prof.Ângelo com a voz de Jovanotti ao fundo – “temos que ganhar esse concurso!”... “E gira gira il mondo/e gira Il mondo e giro te/...[...] bella /come un’armonia come l’allegria/ come la mia nonna in una foto da ragazza/ come una poesia /o madonna mia /come la realtà che incontra la mia fantasia...” ensaiamos. Semana seguinte, vozes afinadas, nos apresentamos e ficamos apenas no 2º lugar. Valeu mesmo assim. (mais estudos e testes de conhecimento)
Fomos também conhecer a República de San Marino. Queríamos comprar qualquer coisa na zona franca ao norte de Le Marche. Subimos a colina, apreciamos o visual grandioso e pra nossa felicidade... caiu a neve!!...Foi a primeira vez que senti a delícia e a vertigem que causam aqueles floquinhos gelados caindo sobre nós... ãããã... que delícia!!! À noite regressamos... e a neve continuava a cair...
No Residence, nos dias seguintes, entre uma aula e outra, fizemos bonecos de neve e continuamos a brincar jogando bolas de neve uns nos outros. Ah! que divertido!
O final do curso chegou... que pena! Recebemos certificados e cumprimentos. Tivemos uma alegre festa de despedida com todos os professores, abrilhantado por Luca di Dio, e um grande jantar. A vida passou muito rápido!... Foi inesquecível.
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IZABELLA PAVESI
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Texto publicado na Revista INSIEME nº 157 de Janeiro/2012 - em português e italiano.
O primeiro intercâmbio é pura adrenalina. Não importa o cansaço das noites insones, da viagem longa, dos estudos prementes, nada importa, é sempre especial. A Escola Dante Alighieri de Castelraimondo, no centro da Itália, na região Le Marche, foi o meu destino e de mais 50 alunos no início de 2005. Depois de chegar em Milão, parti de trem, no domingo dia 07 de janeiro, para essa pequena cidade.
- Buon giono! Buon giorno! – receberam-me calorosamente o professor Ângelo, a diretora Gabriela Poeti, Sr.Pier Paolo e Geórgia, às 7 horas da fria manhã de três graus negativos. Logo depois, chegou o restante do grupo via Roma. Eram muitos abraços de boas-vindas, sorrisos, malas e vontade de curtir coisas novas.
Fazer um intercâmbio é mergulhar noutra cultura, e a maioria de nós descendentes de italianos tinha motivos de sobra pra se emocionar. Despimo-nos de preconceitos e abraçamos a tolerância. O impacto de outra cultura faz com que se quebrem paradigmas, novos conceitos e ideias compõem um novo “cosmos”. A cidade já se habituara ao viço dos estudantes estrangeiros. Tínhamos aulas geralmente pela manhã, e de tarde passeávamos pelas cidades vizinhas.
Na minha classe, o Prof. Ângelo se esforçava pra nos fazer entender as nuances da língua de Dante, novas sequencias de vogais e consoantes soavam docemente em nossas mentes alegres. Ele estudava o português e tornou nosso aprendizado bem mais fácil. Na sala: um inglês, um sueco, um argentino, um costa-riquenho, e onze brasileiros. E, um mosaico cultural igualmente rico compunha as outras classes de aula da escola.
Já na tarde de terça-feira fomos conhecer a famosa Universidade de Camerino, fundada em 1336, que foi e ainda é uma das mais renomadas Faculdades de Direito da Itália. A cidade fica no topo de uma colina e é super-aconchegante. No subsolo da Instituição encontram-se – pasmem! – relíquias dos tempos romanos, blocos admiráveis de tempos remotos.
Nossos anfitriões Sr.Casoni e Sra. Pina festejaram nossa vinda: “Gelato Party”. Uma grande festa ao som de música pop, vinhos e “tiramisù”; dançamos e nos refestelamos animadíssimos aquecidos na lareira da mansão. Eles amavam aqueles ares estudantis e, em particular, a brasilidade alegre que ultrapassa fronteiras.
Dias seguintes: estudos, debates, jogos de palavras e exercícios.
No domingo a escola nos levou a grandiosa Roma. Que extraordinárias construções antigas!... muros, relíquias, museus, ruas de pedras milenares, igrejas e catedrais de encher os olhos!... tudo é muito especial. - Olhe só!... – exclamou Rosalba – que romano maravilhoso!...- fez um gesto com o olhar – bate uma foto de mim com ele, sim? – nem piscou... e foi direto pro homem que posava de romano com as turistas cobrando cinco euros. Outros “romanos” se juntaram e a pegaram no colo pra êxtase da nossa colega balzaquiana. Fiz as fotos e caímos na risada. A foto Polaroid foi exibida exaustivamente a todos os colegas da turma,... a amiga ria numa faceirice só.
No Residence, em nosso apartamento com sacada, fazíamos as refeições em comum acordo. Comprávamos os alimentos num mercado que, para nossa surpresa, vendia as sacolas plásticas, já naquela época: a preocupação em reciclar era constante. Provamos as deliciosas massas italianas, os queijos e os presuntos, entre outras iguarias.
Novamente um grande passeio: Firenze, berço do Renascimento. A secretária Ana Poeti foi nos explicando a importância dessa belíssima cidade. Todos ficamos boquiabertos com o esplendor das praças com suas belas estátuas, da Galeria degli Ufici e dos Museus de Arte. Ao pôr do sol tomamos o rumo de volta pra Castelraimondo. Depois, estudos, debates e mais estudos.
Lia, Bia, Rosalba e eu passamos a tarde nos preparando pro jantar típico. Com os amendoins e o açúcar mascavo que Rosalba trouxe na mala fizemos quitutes pra turma. Levamos pra festa no hall da escola cuja mesa estava forrada de delícias diversas de diferentes países: o grupo da Costa Rica nos brindou com “bananas-de-são-tomé” fritas; os colegas do Rio de Janeiro fizeram rabanadas deliciosas; a turma de Porto Alegre fez bolo de milho e pinhão; outro grupo trouxe pipoca, quentão e maria-mole, e outros compraram tortas doces e salgados. Nosso grupo ganhou um Limoncello e festejamos!... Valeu! Nos dias seguintes saboreamos aquele delicioso licor italiano.
Passeios a Matélica, a Urbino, a Perugia, a Fabriano, a Assisi, ao Parque Nacional dos Montes Sibillini, a Macerata, a Gubbio, a Porto Recanati, as Grutas de Frasassi, a San Severino Marche, à Loreto com sua belíssima Basílica, encheram-nos de alegria e encantamento. Tudo nos enchia de felicidade.
Pedimos e a escola nos permitiu ir a uma grande discoteca: Lola di Porto Recanati. Vestimo-nos com nossas grifes (!!!) mais belas, morrendo de frio, pois a gente queria arrasar. – Não acredito que você vai levar isso?! – falei pra Rosalba – claro, que sim! – me disse rindo. Ela tinha trazido (pasmem!) uma garrafa de “51” na mala, e depois deitara o líquido numa garrafa d’água San Benedetto... imagine, só?! Como vestíamos casacos pesados (fazia – 5 graus!) foi fácil esconder a “garrafinha”. Entramos. No interior, um luxo só. Achei um exagero umas moças meio peladas sobre altas mesinhas sambando e dançando sensualmente. Os tempos mudaram... Rosalba deu a garrafa pro colega da Costa Rica experimentar: - “Tequila?!!!”... ele gritou – “vocês trouxeram tequila?...” - não, não é propriamente isso... Passamos horas dançando e nos divertindo pra valer... afinal, estávamos matando saudades de um tempo distante.
Tivemos a exibição de filmes, entre os quais: “Mediterrâneo”, “Polvere di stelle”(Pó de estrelas) e “I cento passi” (Os cem passos); um documentário sobre o poeta “Giacomo Leopardi”, e outro sobre “Il risorgimento”. Mais debates, mais estudos sobre os diferentes dialetos, teatro e exercícios de gramática em cada sala.
Cinco horas da madrugada gelada embarcamos pra Veneza. Felizes!... e como! Éramos um grupo de estudantes ávidos por passear pela Sereníssima. Pelas nove horas já estávamos lá na Praça São Marcos. Entramos na Catedral S. Marcos com nosso guia nos explicando a sua história, as obras de geniais pintores venezianos, as catedrais seculares, os estilos das construções, as inúmeras pontes e a importância de Veneza para Oriente e Ocidente. Voltamos extasiados. (às 11 hs da noite chegamos ao Residence).
Mais estudos, mais palestras e mais debates sobre a cultura italiana.
- “Vamos lá... cantando!”... pediu o prof.Ângelo com a voz de Jovanotti ao fundo – “temos que ganhar esse concurso!”... “E gira gira il mondo/e gira Il mondo e giro te/...[...] bella /come un’armonia come l’allegria/ come la mia nonna in una foto da ragazza/ come una poesia /o madonna mia /come la realtà che incontra la mia fantasia...” ensaiamos. Semana seguinte, vozes afinadas, nos apresentamos e ficamos apenas no 2º lugar. Valeu mesmo assim. (mais estudos e testes de conhecimento)
Fomos também conhecer a República de San Marino. Queríamos comprar qualquer coisa na zona franca ao norte de Le Marche. Subimos a colina, apreciamos o visual grandioso e pra nossa felicidade... caiu a neve!!...Foi a primeira vez que senti a delícia e a vertigem que causam aqueles floquinhos gelados caindo sobre nós... ãããã... que delícia!!! À noite regressamos... e a neve continuava a cair...
No Residence, nos dias seguintes, entre uma aula e outra, fizemos bonecos de neve e continuamos a brincar jogando bolas de neve uns nos outros. Ah! que divertido!
O final do curso chegou... que pena! Recebemos certificados e cumprimentos. Tivemos uma alegre festa de despedida com todos os professores, abrilhantado por Luca di Dio, e um grande jantar. A vida passou muito rápido!... Foi inesquecível.
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IZABELLA PAVESI
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Texto publicado na Revista INSIEME nº 157 de Janeiro/2012 - em português e italiano.