Convivendo com estranhos
A correria do cotidiano batido das grandes cidades, em qualquer lugar no mundo, impõe à toda pessoa uma incapacidade de aproximação com as outras. Trabalho, formação, descaso, mais trabalho, menos formação, mais descaso, medo. A vida é difícil, mas mais difícil é viver.
Imagine que você vive em uma casa há dez anos, e nem ao menos sabe o nome do seu vizinho. Estranho? Não, pois é assim que vivemos hoje. Temos que correr, porque essa é a impressão que nos é mostrada. Se o cidadão não se apressa, o mundo o atropela, simples assim. Trabalho durante a semana, trabalho complementar aos fins de semana, faculdade noturna, filhos na escola cedinho, cursos e mais... E não há como parar, precisamos disso. E aquele vizinho, que você não sabe o nome, também pensa assim, por isso o afastamento, seu vizinho é seu concorrente, e todo concorrente é seu “inimigo”.
Lutas nada sadias, e quanto menor o poder aquisitivo, menor as possibilidades. É a lógica barata que custa caro, se eu posso ter mais, vou querer, e nisto vou perdendo tempo. Qualquer habilidade, quando não lapidada, decompõe-se em vício, erros... Desbocando em medo, do que seja. Nossa capacidade de amigar, de conhecer, de ser ouvinte, fica quase em suma restrito ao “Oi”, “Boa tarde”, “Preciso correr, meu arroz vai queimar”, e olha aí, nem sempre queremos cumprimentar, e quase nunca comemos arroz.
Quantos nomes você sabe que moram na sua rua? Quantas casas são verdes? Amarelas? Mas como assim nomes? São pessoas... Algumas até interessantes, outras nem tanto, mas e aí? Vale a pena tentar, a vida é difícil, mas fica mais ainda, quando você sente o peso dela sozinho.
Daniel Sena Pires – Convivendo com estranhos