CONFUNDINDO AS PESSOAS!
Em certas ocasiões da vida de uma pessoa, o destino costuma deixá-la confusa, admirada e até emocionada, quando se depara com alguém que fez parte do seu relacionamento e círculo de amizade. Refiro-me ao momento em que tal pessoa se encontra, aleatoriamente, com outra com todas as características físicas de um (a) amigo (a) ou parente e ao abordá-la, cumprimentá-la, pode cometer uma pequena gafe, confundindo-a com a verdadeira pessoa. Este é um fato, que apesar de não ser assim tão corriqueiro, quando surge, gera sempre uma pequena dose de constrangimento a ambas as partes envolvidas. E não importa o local, a hora e a circunstância, uma vez que ninguém está isento deste fato, o mínimo que pode acontecer, após desfazer o equívoco é o pedido de desculpas pelo lapso da memória.
Então, para emoldurar este quadro, este assunto, citarei um caso que aconteceu comigo, quando fui confundido por outra pessoa, ou seja, alguém que me viu e jurou ao seu colega, que eu seria um parente desparecido e tido como morto. Credo! Sim, foi isto mesmo que ocorreu. E o local inusitado não foi outro senão um estádio de futebol. Que diria! Mas, pensando bem, melhor do que fosse num cemitério, na hora de um sepultamento qualquer. Eu, particularmente, jamais iria imaginar que, no meio de uma multidão de torcedores do Santos, em pleno Pacaembu, alguém iria me cumprimentar, julgando que eu fosse um irmão que não o via há muitos anos. A princípio, sinceramente, como sempre fui muito desconfiado com súbitas abordagens de desconhecidos, julguei que fosse algum tipo de "pegadinha" que passa na televisão ou talvez fosse um subterfúgio para engatar uma conversa fiada para conseguir algum tipo de favor espúrio, sei lá.
Neste ocasião, o meu filho, um rapaz de 23 anos, que estava comigo, até se assustou um pouco e ajudou inclusive a desvencilhar a dúvida daquele torcedor, que havia me confundido com o tal parente desaparecido. E o papo foi sucinto e objetivo, deixando frustrado ou aliviado o tal senhor, quando averiguou e teve certeza que eu não era a pessoa que ele julgava que fosse.
Repito: tal abordagem aconteceu no intervalo de um jogo do Santos pela Libertadores da América contra o Penarol, no momento em que descemos da arquibancada e estávamos próximo do alambrado do estádio. E foi então que aquele senhor, aparentando a minha idade expôs a sua dúvida cruel:
-"Olha, durante todo o primeiro tempo, eu estava olhando para a sua pessoa e fiquei profundamente emocionado, julgando que fosse o meu irmão - desparecido e dado como morto - há mais de cinco anos!"
- Deve haver algum engano. Pois os dois irmãos que eu tinha já morreram, desculpe-me.
-"Eu é que lhe peço desculpas! Meu Deus, até o jeito de falar e a voz são iguais! Que coisa? Como pode haver gente assim tão parecida!"
-Acontece, senhor.
-Não tem a menor dúvida. REalmente acontece.
Quando a bola voltou a rolar no segundo tempo, em meio àquela gritaria dos torcedores santistas, o meu filho ainda encontrou um meio de sair com esta tirada:
-Já imaginou, pai, se aquele homem estivesse devendo uma boa grana ao irmão desaparecido e se prontificasse a fazer o respectivo pagamento naquele momento?
Dei risada para não perder a piada e discordei com algum pessimismo:
-Nesta vida, filho, tudo é possível. Agora imagina você se a recíproca fosse verdadeira, ou seja, se fosse o "irmão desaparecido", neste caso, eu, que tivesse devendo esta boa grana! Chupa esta manga!
-Ah, pai, vamos pensar positivo, vai?
-Estou pensando, filho! Olha o gol do Santos aí, não estou falando? Ô ô ô, Santos! Agora quem dá bola é o Santos!
Já portão da saída do estádio, aí foi a minha vez de brincar com aquele caso que havia acontecido no intervalo:
-E agora, no meio desta multidão, como vou encontrar de novo aquele meu "irmão"?
-É, agora foi ele quem desapareceu, pai!
- No próximo jogo nos encontraremos novamente! Quem sabe!
JOBOSCAN