Coisas que deveriam mudar...

Está chovendo. O que não é nenhuma novidade em minha cidade. Vivemos na maioria do tempo com dias assim: chuvosos, nublados, tristes. Fico pensando, questiono se é o reflexo do nosso interior? Também acredito que estou cinza por dentro, cinza como o tempo. O Sol parece que cansou de brilhar por aqui, por esta cidade. E também por aqui, dentro de mim. É como uma casa sem iluminação, sem nem mesmo a luz do dia, porque parece que lá fora, na rua, é sempre noite, escuro, estranho, silêncio. Silêncio perturbador, inquietante. Gozado é que quando estou assim, é quando mais me dá vontade de escrever. Necessidade de colocar para fora este sentimento cinza, estranho, escuro. Minha briga com o sono continua. Sinto sono, mas não consigo dormir. Será que estou condenada a viver assim? Me recuso a tomar remédios. Sei que vou ficar dependente deles e, isso eu não quero. Prefiro o desconforto, a dor e esta falta de sono do que um sono artificial, sintético, criado por uma indústria farmacêutica que nem está aí para o meu problema, só quer ganhar "rios" de dinheiro às minhas custas. Não vou alimentar este monstro devorador de pessoas, que como eu, precisam dormir. Bem, agora relembro o que foi que me fez vir até aqui, escrever. Não foi minha falta de sono, porque isto já é uma rotina. Foi a lembrança de uma constatação que tive, e da qual nem imaginava que ainda acontecia, existia, em minha cidade. Em pleno 2011, na cidade que vai completar 200 anos em 2012, a "princesa" do Sul, ainda existem pessoas que não possuem um sanitário. Moram às margens do canal São Gonçalo e, despejam seus dejetos no mesmo, todos os dias. Que as condições eram precárias, eu já sabia. Casas de madeira, de latão, de papelão...Já havia percebido isto. Mas, tal é a minha inconsciência, meu adormecimento, que nunca passou pela minha cabeça que "aquelas" pessoas, pessoas que já vi passar por mim tantas vezes. Aquelas mães com seus filhos caminhando rapidamente, e olhando para todos os lados, buscando material para reciclagem: garrafas pets, papelão, vidros...nas ruas de nossa cidade, são as mesmas mães que, todos os dias, precisam livrarem-se de seus dejetos, porque não possuem encanamento em suas pobres casas, não há saneamento básico, quem dera um aparelho sanitário.

E eu fico me perguntando, a que ponto chegamos? Estamos aqui reclamando do tempo, da internet lenta, (eu) da falta de sono. E, em contrapartida, um pouco distante de nós, algumas ruas abaixo, talvez, estão estas mães, estas mulheres jovens ainda tendo que passar por uma situação tão degradante, tão triste, tão humilhante para um ser humano. Quem são estas mulheres? O que elas têm de diferente de nós? Como são seus filhos? Não são crianças também? Será que eles não precisam de proteção, saúde e cuidados como nós, um dia, já tivemos? E por que não tem? Por que? A culpa é deles? Alguns vão, prontamente, dizer que sim. Mas, eu não acredito nisso, não compartilho desta opinião. Todo mundo acha fácil mudar de vida. Mas quando é a vida do outro, daquele pobre que assistimos viver na miséria, na degradação. É fácil mudar de vida? Nós conseguimos mudar o nosso clima? O clima desta cidade cinza, nublada, triste? Conseguimos que a nossa internet, que pagamos e caro, tenha a velocidade que prometeram? Conseguimos deixar os problemas, as preocupações de lado e dormir bem? Podemos achar que sim. No entanto, as notícias nos jornais, revistas e internet, cada vez mais, mostram que não. A cada dia mais pessoas estão estressadas, depressivas, ansiosas, irritadas, deselegantes, mal educadas, agressivas...e, não passam e não vivem nem perto das dificuldades que "aquelas" mulheres jovens com seus filhos, vivem, todos os dias. Mais barato que um remédio para dormir, mais gratificante que qualquer outra coisa no mundo é fazer alguma coisa para mudar a triste vida dessas pessoas. Eu sinto isso, pressinto...e, sei que é isto que preciso fazer. Ainda não sei como, mas acho que está na hora de nos mexermos...para que as coisas que NUNCA mudam, comecem a MUDAR.

Lisi Martins
Enviado por Lisi Martins em 30/11/2011
Código do texto: T3364812
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