"O Ninho"
Estava eu na plenitude de meus sete anos.
Na minha casa morava, minha namorada, minha mãe, princesa, rainha, fada madrinha, enfim meu sonho de consumo.
Como nada no mundo é perfeito, morava também conosco, meu pai ou o príncipe mau, meu inimigo numero um.
Vivia agarrando minha mãe, o que me deixava danado da vida, e o pior é que às vezes ela gostava.
Mas como boa rainha sempre que eu estava por perto, não o deixava ficar de sem-vergonhice, pois só gostava de mim.
Ah, também tinham duas fadas malvadas, sendo a pior a minha irmã Rita, que sempre me beliscava por qualquer coisa, perguntava até porque eu não morria?
E me assustava falando do tal de bicho papão que viria me buscar.
Minha outra irmã Gisele, embora ruim também, às vezes tinha umas boas ações, e até contava histórias para mim.
Mas quando estava com raiva, contava histórias de medo de bichos, mortos vivos, e sei lá mais o que.
Neste dia fazendo minha ronda passei pelo quarto onde as duas brincavam de boneca.
Da porta já recebi um sonoro, some daqui moleque, pensei um dia você me paga, ou sua filha.
Esta era minha irmã Rita que tinha quatro filhas (bonecas) sendo todas diferentes, uma loira, outra morena e as outras não sei.
Um dia ela guardou uma das filhas em uma caixa embaixo da cama.
Eu achei e pintei a cara dela com batom e diminui um pouco seu cabelo.
Acho que minha irmã percebeu a pintura e que sua filha estava com o cabelo um pouco ralo.
Quis me pegar, mas minha princesa estava de plantão e falou:
- porque você havia largado embaixo e de fácil acesso?
Não entendi muito bem, mas valeu.
Fiquei preocupado porque ela falou chorando.
-Você me paga e eu sabia que ia pagar o problema era, como?
Bem este era um dos meus problemas, precisam ver quando meu pai me pegava.
Só porque peguei seu material de pesca para brincar um pouco e coloquei tudo no mesmo lugar ou quase.
Tomei duas cintadas na bunda, só não tomei mais porque minha namorada, pois fiquei paralisado de medo, me abraçou, mesmo tomando uma cintada no braço conseguiu me salvar tirando dali.
Bem era esta minha vida, apanhava de minhas irmãs, apanhava de meu pai, só não apanhava de minha princesa e namorada.
Após patrulhar a casa, saí para o quintal onde minha mãe lavava roupas.
Ela jogou um beijo que me deixou muito feliz.
Fui para os fundos do quintal onde as emoções eram mais fortes e ninguém me batia.
Junto de uma frondosa arvore, havia uma escada.
Muito mal feita, mas era um belo achado.
De lá de cima poderia ver o bairro e até um circo que estava acampado nas imediações.
Com algum esforço consegui galgar álbuns degraus.
Parando para descansar olhei para cima e vi um enorme ninho.
Minhas forças voltaram e subi rapidamente.
Ao colocar a cabeça no ninho para matar minha curiosidade, uma enorme carijó, deu uma bicada na testa.
Com a dor e com seu bater de asas, assustado caí dali.
Por pura sorte bati com as costas em um varal de cordas que minha mãe estendia roupas.
No dia seguinte feliz da vida recebi a visita de papai que até me beijou.
Minhas irmãs contaram historias, sem falar em minha namorada que não saía de meu lado.
Depois desta, outras histórias houveram que depois contarei.
Curioso ela hoje tem noventa anos, eu sessenta e quatro, até hoje namoramos.
OripêMachado.