Hitler Foi Para o Céu
Muitas são as estradas para chegar ao Divino, e a maldade é uma delas.
Aprofundar-se na espiritualidade requer uma flexibilidade constante para que possamos ter coragem de rever nossos conceitos e ficar atentos para os nossos pré-conceitos.
- Hitler foi para o céu - contou-me o mentor, prevendo minha cara de espanto.
- Não pode ser! - respondi incrédulo.
- Pode ser e é! - ele respondeu e riu como se caçoasse da minha ignorância ou da minha falta de preparo para compreender que os caminhos para o Divino não são tão "branco no preto" como as escrituras pregam e os fanáticos interpretam.
- Há iluminação espiritual também no "mal". Os que escolhem esse caminho, também possuem direito a libertação. E a eles não será negado a chance do " despertar espiritual", porém, para aqueles que caminham nessas bandas, o que perguntamos é : a que preço?
Por mais que tenhamos descoberto algumas respostas, as perguntas continuam a aumentar, e a jornada que parecia tão linear se faz complexa, porém rica em caminhos e formas de alcançar o destino certo. Já diziam os apóstolos do Mestre que Jesus dizia " Haverá de ocorrer tragédias, mas reze para que ela não ocorra por suas mãos".
A tragédia ensina, a dor gradua e a morte liberta. Nem tudo são flores nesse jardim da dualidade, mas quem semeia espinhos, colhe tempestade. E até essas " tempestades" elevam. Isso é o que dizia o Mentor para mim, enquanto eu teimava, segurando-me na minha verdade do " não pode ser assim".
- Mas eles precisam pagar! - retruquei - Ter o céu como recompensa é um incentivo para esses bandidos. Onde está a justiça divina?
- Você já provou da cartilha do remorso? - perguntou o Mentor - Já tomou do remédio da consciência despertada em meio ao caos provocado por atos seus? Você tem ideia da dor que se sente quando o criminoso descobre que o estranho morto era gente próxima a ele? Você tem capacidade para imaginar a angústia dilacerando a alma de um ser que acorda em meio as navalhadas da sombra? Sim, a maldade é escola espiritual também, mas é apenas uma escolha entre tantas outras, haja vista tantos outros caminhos, tantas outras trilhas. Contudo - concluía o Mentor - a escolha é de cada um e tem a ver com aquilo que aquele ser decidiu sintonizar. Naquele momento, o mal, talvez, fosse o melhor que ele poderia fazer.
Definitivamente, mais difícil do que aceitar que Hitler foi para o céu é lidar com os demônios que constroem castelos de verdades absolutas.