Naquela época, eu teria meus quinze para dezesseis anos. Comecei a trabalhar, com a finalidade de fazer um curso no SENAI, como torneiro mecânico. Para conseguir isto, primeiro teria que cair nas graças da diretoria que faria a indicação, aí sim eu estaria no céu. Mas as vagas eram poucas, então deveria ser um funcionário exemplar para ter o aval e entrar para o famoso SENAI.
Comecei como auxiliar de ferramentaria, que nada mais era que um office-boy do escritório e lavador de peças da fábrica. Graças a um esforço enorme consegui a dita vaga e me formei a torneiro revolver, mecânico e afins de ferramentaria.
Quando comecei na empresa de todos os colegas de trabalho, o mais conhecido era o Ferramenta. Almoxarife, mas com força de diretor, tudo que ele falasse de bom ou de mal era acatado pela diretoria.
Todo dia após o almoço, era a hora da pelada. Ia das 12:20 até as 12:55. Curioso era que o time tinha até juiz. A mim foi paga a missão de carregar o saco de camisa do time, bem como a bola, que deveria estar sempre cheia, colocar as traves do gol que eram barris coloridos e ficar atento para pegar a bola quando esta se perdesse ou invadisse algum quintal, quase todos com cachorro.
Bem como estava dizendo, neste dia conversando com um colega mais antigo perguntei:
- Porque Ferramenta? Porque é almoxarife?
- Não tonto, é por causa da ferramenta dele e fez um gesto abrindo os braços. Já comeu até a mulher do patrão. Todos falavam a uma só voz "FERRAMENTA"!!
As funcionárias todas já tinham sido traçadas por ele. Em brincadeira ele sempre falava para você: "olha aqui a ferramenta". Na hora o outro calava a boca. Sua fama crescia, até eu comentava com os mais novos a respeito do tamanho da ferramenta dele.
Como freqüentava o SENAI, e modesta parte sabia quase tudo da empresa, fui trabalhar no almoxarifado. Assim como todo católico vai à missa e todo evangélico vai ao culto, o metalúrgico tem encontro com a loira. Com ou sem dinheiro, pagando ou deixando fiado, todos sem exceção vai ao boteco e tome loira. Antártica, Brahma, não importa desde que gelada.
Na firma pela sua fama e na rua pelo conhecimento eu e Ferramenta nos respeitávamos. Meu nome é Joaquim,  Quinzinho para os amigos e inimigos, pois até eu já havia me acostumado com ele. O Ferramenta (José Antônio), descobri após algumas bramosas.
- Quinzinho você é meu amigo, meu único amigo. - E me abraçou. Deu-me um calafrio na espinha, eu falei:
- Para! Nossa amizade é grande, mas para por aí.
-Vou te confessar uma coisa.
- Deixa quieto irmão vou te levar para casa.
- Quero contar porque meu apelido é ferramenta.
- Não enche o saco Zé, você está me estranhando. Estávamos caminhando pela avenida e ele sacou o monstro à ferramenta. Gente deu dó, eu que sou um cara considerado normal parecia um bem dotado perto da ferramenta dele. Aquela coisinha preta era a causa do grande sucesso do rapaz.
- Quinzinho no quartel um sargento gozador me viu pelado e começou a falar para todos dando risada.
- Olha eu te jogo na mão do "Ferramenta" ali.  A brincadeira teve efeito contrário e eu não desmenti. Quando vim para a firma à fama me acompanhou. Todas as mulheres que saí, não houve nada, só riam e iam embora. De vergonha não comentavam com ninguém e a fama crescia. Talvez até por pena de mim, até a mulher do patrão. Depois que saiu comigo reatou o relacionamento e até deu um filho para ele.

Com o tempo me formei e saí para um melhor emprego. Claro não contei para ninguém e não sei se alguém descobriu o grande segredo do "Ferramenta".




OripêMachado
 

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 29/11/2011
Reeditado em 29/11/2011
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