Miopia

Retirou os óculos míopes, afastou aquelas lentes cheias de lonjuras e cedeu o olhar à luz. Agora sim, estava a ver as linhas, as curvas de todo aquele bom sentir. Sempre insistira com a mãe para que o deixasse, bem assim, cego de luz. Era bom. E podia, sem insistência ou reticência, dizer a palavras pelas mãos, pelos olhos amarelos. Sem o medo diário de ler o jornal e ver o que não queria. Era tudo aquilo a querência do seu pleno ser. E, livre assim, ai que bom, nem ela, nem ela, iria mais poder dizer a cor do sol ou o negror da lua. Afinal, a luz, agora, era sua, só sua, enfim.

Doraa
Enviado por Doraa em 28/11/2011
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