DE GENERAIS A BUNDINHA

Ele veio ao mundo com o pomposo nome de Dario César Monteiro, mas, por uma dessas finas ironias do destino, fora condenado a viver como um reles Dario Bundinha. Não que o epíteto proviesse de maldosa insinuação da sua degradação moral ou física que ele sabidamente não as tinham;  conjeturaram, por um tempo, tratar-se de capricho: algum colega ou adversário, enfurecidos ou não, tascou-lhe a bundinha no nome e pegou. Tudo questão de oportuno momento de zanga ou zombaria.

 A verdade é que assim ficou, Dario Bundinha.

Sabidamente se reconhece que, nos atos de apelidar ---  e com o perdão do trocadilho ---  se o fulano apela é sinal seguro que a encrenca vingará, é mais que certo... É tiro e queda!  E Dario César Monteiro, a princípio, deve ter apelado.

Mas como, onde e quando?

Mentes desocupadas, a sabedoria popular as tem como serventias do diabo. Relembrando os idos,  é verossímil crer no dito.

A lâmpada fraca, suspensa num dos tortos postes de aroeira da Mato Grosso, iluminava habitualmente com sua luz amarela, um grupo de meninotes sob ela reunidos a desfiar costumeiras patranhas em “rodinhas” de ócio.

Todavia, não só o calor sufocante das noites atiçava-os  à inquietação, levando-os a movimentar o impetuoso comportamento adolescente. Num átimo, brotava aquela algazarra frenética de passar a mão na bunda uns dos outros. Constrangido, quem levava a passada tentava se vingar do atrevido passador, forma máscula de polir os seus brios feridos; quando lhe malograva o êxito, perseguia outra vítima nas proximidades. Aquilo virava uma ciranda louca! Alastravam de tal forma as tentativas desmoralizantes, quais faíscas elétricas tocassem a todos, eletrizando-os nos movimentos de tocar e proteger-se. Todos em volta saltitavam se resguardando, mas ao menor descuido eram molestados. E riam, e pulavam, e zombavam.

Por mim, tenho cá que a gênese da maldição do Dario vem daí. É quase certo que ele não conseguia dar o troco na cambada e a Mato Grosso acabou transformando-se no seu calvário.

E por falar em mentes desocupadas, em que a minha foi se ocupar hoje? É brincadeira, tchê!