Nossas primeiras damas
Ontem, vi no Fantástico, a vergonhosa reportagem sobre algumas de nossas primeiras damas, espalhadas por esse tapete mágico chamado Brasil. Digo mágico, porque pela reportagem vi que muitas delas conseguiram a magia de garantir o enriquecimento da família inteira, como num país das maravilhas, onde antigamente, acreditavam que as fadas transformavam trapos em vestidos de baile, abóboras em carruagens e havaianas em sapatinhos de cristal. Mas não foi com uma varinha mágica que elas construíram suas riquezas. Foi com o esquema fraudulento tão conhecido em nosso meio, com a criação de empresas fantasmas, uso de laranjas para o desvio de verbas públicas, lavagem de dinheiro e acumulação ilícita de bens em nome de outras pessoas. Não quero amenizar, nem questionar a carreira das mulheres desses prefeitos. Algumas, quando o marido é compromissado com o cargo e o povo que representa, assumem funções muitas vezes merecedoras de aplausos, abraçam a ação social, se integram no plano de governo para dividir com o marido a tarefa de trabalhar para o crescimento da cidade que os escolheu. Outras, se isolam da política e continuam vivendo paralelamente, alheias à comunidade por não terem o perfil político necessário para o papel de primeira dama. Só ostentam o título e nada mais. Outras, e nesse caso, as que hoje geram vergonha para o seu município, são usadas como elemento catalisador de vantagens e lucros. Nem sempre é a índole feminina, a criadora de artimanhas tão escandalosas para roubar descaradamente, a merenda da escola ou as subvenções para projetos sociais. Esses planos geralmente são herdados de esquemas antigos, repassados de geração à geração de prefeitos por quem já tem experiência em driblar o Tribunal de Contas, a inteligência do povo e a contabilidade interna, muitas vezes em mãos de gente inexperiente, justamente para que as falcatruas não sejam percebidas. Muitas dessas digníssimas damas entram no esquema sem perceber, coniventes talvez com situações emergentes da qual elas não têm noção do tamanho do rombo. É claro, que existem aquelas que agem com plena consciência da ilicitude e dos riscos, mas acobertadas pela impunidade presumida do poder público, acreditam que tudo vai dar certo, e caso não dê, no final, não vai dar em nada. Digo isso, porque nas minhas andanças por essas Minas Gerais afora, enquanto no meu cargo de inspeção, vivi e convivi com muitos prefeitos e suas primeiras damas, das quais de vez em quando surgia um boato ali, outro aqui, bem pertinho ou longe de nós, e nunca se soube de dar nada para alguém. Nos primeiros dias é um escândalo, a mídia deita e rola no noticiário, umas visitinhas na cadeia e logo, logo... vem os deputados que apóiam o partido, usam a força política para relaxar as denúncias e poucos dias depois, ninguém mais fala nisso. E aí brota outro assunto mais interessante, o foco das câmeras muda de lugar e ninguém fica sabendo no que deu. Mas, apesar do esquecimento, fica a nossa vergonha de ver mulheres fazendo papel de bandido na política, ao invés de estarem lutando para a melhoria de qualidade de vida de seu povo, principalmente as crianças, que são de quem mais roubam. Entre ser usadas ou ousadas, nenhum adjetivo combina mais com essas ilustres senhoras do que safadas. Com eufemismo, é claro.