Juvino era um mulato muito forte. Na fazenda Seis Marias, todos o respeitavam. Era o melhor vaqueiro, orgulho do coronel Teobaldo e de seus filhos. O coronel homem da terra, desde que deixou o exército nada mais fez que ampliar seu patrimônio. Dizem que honesto não faz fortuna, então não sei, só que ninguém nunca disse algo que o desabonasse. Casado com D. Luzita professora, também filha de latifundiários. Parece que o casamento foi um acerto, pois o coronel assim que casou assumiu a refinaria e acertou financeiramente a vida do sogro e dos cunhados. Após algum tempo foi trocado todo o operacional, sendo contratados até americanos e franceses que fizeram a empresa subir vertiginosamente, triplicando o investimento, agora movido por engenheiros e só com capacitação no ramo. D. Luzita deu ao coronel a alegria de três belos rebentos. Joaquim o mais velho, agora engenheiro agrônomo, auxiliava o pai na administração da fazenda. Teobaldo, ou Junior, de vida desregrada, abandonou a faculdade para ser vaqueiro, trabalhava com a peonada e auxiliava o operacional. Era um conhecedor de homens. A caçula do coronel, Maria Luzita, com pouquíssima idade foi mandada para o Rio de Janeiro, onde cursou as melhores escolas. Formou-se em psicologia e medicina, era na opinião de muitos, a mais inteligente da família. Naquele ano veio passar as férias na fazenda, trouxe também o namorado, garoto da cidade, filho de gente rica, o que nós chamamos de playboy. Juvino estava no auge de sua juventude e era o super herói da peonada. Até Teobaldo Jr. o respeitava. Para comemorar a vinda da irmã, Jr. preparou uma festa de rodeio. Entre os participantes estava Juvino. Como costume do lugar, os participantes se paramentam e Juvino também o fez. Se as cores eram berrantes não sei, só sei que os visitantes resolveram fazer Juvino, a piada da festa. Movidos a álcool se extravasaram, até Maria Luzita ria também. Não que quisesse ofender, mas ofendeu. Nervoso, o vaqueiro falou:
- Se fosse minha mulher apanhava de chicote.
O namorado menino de cidade cheio de academias, quis dar uma lição no caipira. Mal sabia ele que na bondade, Juvino não era bom, mas na maldade, pior ainda. Tomou meia dúzia de socos, que perdeu vários dentes. Com a interferência de Teobaldo Jr., a briga parou, cada um para seu lado. Como não ficou nada acertado a pendenga continuou.
Passando pelo pátio da fazenda em direção ao mangueiro, Juvino quase foi atropelado pelo carro do playboy. Quando atravessava o curral, Maria Luzita foi agarrada por Juvino, e como resposta deu-lhe sonoro tapa na cara. Mal sabia ela que estava na iminência de ser atacada por uma vaca com cria recente. Com a violência do tapa ele jogou-a de encontro a uma cerca de madeira. Os jovens caíram sobre ele cobrindo-o de pancadas. Ficou muito machucado. Por isto, Teobaldo Jr. mandou-o embora da fazenda. A moça ficou sabendo o porque de ter sido agarrada e o fato foi confirmado por vários peões que assistiram a cena. Ele havia salvado sua vida e ela havia batido nele e ainda deixou que o espancassem. Para completar, seu irmão o dispensara do serviço. Pegou um cavalo e saiu sem avisar ninguém. Foi atrás dele. Soube confidencialmente estar ele temporariamente num rancho de pescadores às margens de um rio nos limites da fazenda. Ele não a viu chegar por causa do barulho d’água. Tentava pescar com uma pequena vara de bambu. Estava só de calças jeans, sem camisa, ela admirou sua musculatura. Suas costas estavam marcadas pela surra que levou.
- E aí tudo bem?
- Sim. - Ele respondeu olhando-a de soslaio.
- Muita raiva de mim?
- Não já passou. E seu noivo?
- Não ele também apanhou. - E riu. Começaram a conversar. - Você começou a trabalhar na fazenda quando?
- Eu nasci aqui.
- Não, eu saberia, pois eu te conheço desde que nasceu. Espere... Você é o neguinho? Filho de D. Quitéria a cozinheira?
- Sim sou eu.
- Poxa! Você mudou muito!
- E você também. E para melhor. Já virou doutora?
- Sim. Já terminei a faculdade.
- Veio só passear? Vai embora logo?
- Não sei, estou pensando.
Ele tentou levantar e gemeu.
- Nossa você está machucado?
- Acho que me quebraram algumas costelas...
Ela ajudou-o a se levantar.
- Vou te levar ao médico.
- Não, me ajude a ir até o rancho, estou passando uns dias ali.
Quando entrou no rancho, só encontrou um balde com um pouco d’água, todo sujo de sangue.
- Você está aqui sem comer?
- Tinha um saco com pão velho, mais já acabou, e meu peixe você espantou, agora nem peixe posso te oferecer no almoço.
- Vou embora e volto com comida e remédios.
Ele disse que não, mas ela já tinha saído não ouviu.
À tardezinha voltou com uma camionete e compras. Ele estava deitado em uma cama improvisada um estrado velho e não respondeu ao seu chamado. Já estava escurecendo, ela pegou uma lanterna no carro. Ele ardia em febre. Tentou carregá-lo mas não conseguiu. Ele era grande e pesado. Pegou água no rio e ficou com ele pondo compressas de água fria em sua testa. Graças a sua compleição física, foi melhorando mesmo sem remédios.
De manhã a febre passou, mas ele estava fraco por inanição. Ela fez uma sopa rala e deu para ele.
- Esta é muito boa! A patroa tratando do empregado... Melhor, ex-empregado..
- Não fala nada. É o mínimo que faço por alguém que salvou minha vida.
- Minha vida é assim. Todos os dias eu salvo mocinhas bonitas do perigo. Só que tem uma coisa, eu sou mercenário, o famoso bandido “bala de prata”. Vou raptar você e só solto em troca de um cavalo e um saco de comida.
- Sua mocinha é bem ralé mesmo, só vale um cavalo e um saco de comida?
- Sim, mas para não dar muito prejuízo, o saco de comida pode estar pela metade e o cavalo pode ser velho. - Ela deu um soco nas costelas dele, que arqueou.
- Desculpe! Esqueci as costelas, mas você forçou!
- Sei que mereço, pois te ofendi, mas estou agradecido. Se você não me ajudasse eu teria morrido. Então estamos quites?
- Não, meu reconhecimento é eterno. Temos que ficar então próximos para podermos ir pagando então.
- Para mim seria ótimo.
Depois de tê-lo enfaixado Luzita falou:
- Amanha eu volto.
- Vou contar as horas.
No outro dia quando Luzita chegou encontrou café pronto, pão de centeio e lingüiça frita. Na mesa improvisada tinha uma latinha com flores silvestres.
- Nossa que beleza de mesa! Com flores e tudo! Ta esperando a namorada?
Os dois ficaram em silencio foram pegos pela brincadeira. O ambiente ficou complicado, cada um que ia falar o outro intervia. Juvino tinha feito a barba, e tomado banho de rio. Estava apresentável. Luzita também estava produzida, parecia uma princesa. Juvino falou:
- Sou um homem do campo, não deveria, mas tenho que te falar. Sou conhecido pela antipatia, pois falo tudo que penso. Com risco de sacrificar nossa amizade. Desde que te vi, no meio daqueles rapazes, minha cabeça disparou. Não sei mais o que faço preciso sair daqui. - Quando levantou foi agarrado pela camisa.
- Olha aqui “gigante”, não sou filhinha do papai que todos pensam. Na cidade ralei muito e por orgulho não pedi ajuda, queria resolver tudo por mim mesma, não sou a filha do coronel. Consegui me formar e hoje graças a mim e meu esforço estou aqui. Também não tenho papas na língua vaqueiro. Dos três filhos do coronel o osso duro de roer sou eu, embora seja mulher. Também gostei de você, sempre curti suas bravuras com cavalos e bois. Depois daquele dia que me salvou também fiquei pirada, desfiz meu noivado e estou aqui olhando nos teus olhos.
Daí para frente os dois se atracaram como um casal de onças. Esqueceram-se as costelas quebradas, diferenças sociais. Era um homem e uma mulher envenenados pelo Cupido. De tardezinha em seu belo carro Luzita levou Juvino para o Rio de Janeiro. O tempo passou, na estrada, um lindo carro com bela família. Um belo jovem de barba bem feita com seu par digno de ser chamada de princesa. No banco traseiro duas lindas princesinhas, faladeiras e bagunceiras:
- Papai, papai, conta a historia do bala de prata?
Antes de contar pela décima vez sua história, sempre cortado por alguma pergunta extra sobre o local, Juvino falou:
- Lú precisamos de mais um homem, sozinho não agüento esta mulherada!
- Ta bom.. Assim que você que você se formar, só falta mais um ano. Dá para esperar, não dá?
E fazer o que:...
- Meninas na fazenda Seis Marias, havia, um príncipe, uma princesa...
OripêMachado.
- Poxa! Você mudou muito!
- E você também. E para melhor. Já virou doutora?
- Sim. Já terminei a faculdade.
- Veio só passear? Vai embora logo?
- Não sei, estou pensando.
Ele tentou levantar e gemeu.
- Nossa você está machucado?
- Acho que me quebraram algumas costelas...
Ela ajudou-o a se levantar.
- Vou te levar ao médico.
- Não, me ajude a ir até o rancho, estou passando uns dias ali.
Quando entrou no rancho, só encontrou um balde com um pouco d’água, todo sujo de sangue.
- Você está aqui sem comer?
- Tinha um saco com pão velho, mais já acabou, e meu peixe você espantou, agora nem peixe posso te oferecer no almoço.
- Vou embora e volto com comida e remédios.
Ele disse que não, mas ela já tinha saído não ouviu.
À tardezinha voltou com uma camionete e compras. Ele estava deitado em uma cama improvisada um estrado velho e não respondeu ao seu chamado. Já estava escurecendo, ela pegou uma lanterna no carro. Ele ardia em febre. Tentou carregá-lo mas não conseguiu. Ele era grande e pesado. Pegou água no rio e ficou com ele pondo compressas de água fria em sua testa. Graças a sua compleição física, foi melhorando mesmo sem remédios.
De manhã a febre passou, mas ele estava fraco por inanição. Ela fez uma sopa rala e deu para ele.
- Esta é muito boa! A patroa tratando do empregado... Melhor, ex-empregado..
- Não fala nada. É o mínimo que faço por alguém que salvou minha vida.
- Minha vida é assim. Todos os dias eu salvo mocinhas bonitas do perigo. Só que tem uma coisa, eu sou mercenário, o famoso bandido “bala de prata”. Vou raptar você e só solto em troca de um cavalo e um saco de comida.
- Sua mocinha é bem ralé mesmo, só vale um cavalo e um saco de comida?
- Sim, mas para não dar muito prejuízo, o saco de comida pode estar pela metade e o cavalo pode ser velho. - Ela deu um soco nas costelas dele, que arqueou.
- Desculpe! Esqueci as costelas, mas você forçou!
- Sei que mereço, pois te ofendi, mas estou agradecido. Se você não me ajudasse eu teria morrido. Então estamos quites?
- Não, meu reconhecimento é eterno. Temos que ficar então próximos para podermos ir pagando então.
- Para mim seria ótimo.
Depois de tê-lo enfaixado Luzita falou:
- Amanha eu volto.
- Vou contar as horas.
No outro dia quando Luzita chegou encontrou café pronto, pão de centeio e lingüiça frita. Na mesa improvisada tinha uma latinha com flores silvestres.
- Nossa que beleza de mesa! Com flores e tudo! Ta esperando a namorada?
Os dois ficaram em silencio foram pegos pela brincadeira. O ambiente ficou complicado, cada um que ia falar o outro intervia. Juvino tinha feito a barba, e tomado banho de rio. Estava apresentável. Luzita também estava produzida, parecia uma princesa. Juvino falou:
- Sou um homem do campo, não deveria, mas tenho que te falar. Sou conhecido pela antipatia, pois falo tudo que penso. Com risco de sacrificar nossa amizade. Desde que te vi, no meio daqueles rapazes, minha cabeça disparou. Não sei mais o que faço preciso sair daqui. - Quando levantou foi agarrado pela camisa.
- Olha aqui “gigante”, não sou filhinha do papai que todos pensam. Na cidade ralei muito e por orgulho não pedi ajuda, queria resolver tudo por mim mesma, não sou a filha do coronel. Consegui me formar e hoje graças a mim e meu esforço estou aqui. Também não tenho papas na língua vaqueiro. Dos três filhos do coronel o osso duro de roer sou eu, embora seja mulher. Também gostei de você, sempre curti suas bravuras com cavalos e bois. Depois daquele dia que me salvou também fiquei pirada, desfiz meu noivado e estou aqui olhando nos teus olhos.
Daí para frente os dois se atracaram como um casal de onças. Esqueceram-se as costelas quebradas, diferenças sociais. Era um homem e uma mulher envenenados pelo Cupido. De tardezinha em seu belo carro Luzita levou Juvino para o Rio de Janeiro. O tempo passou, na estrada, um lindo carro com bela família. Um belo jovem de barba bem feita com seu par digno de ser chamada de princesa. No banco traseiro duas lindas princesinhas, faladeiras e bagunceiras:
- Papai, papai, conta a historia do bala de prata?
Antes de contar pela décima vez sua história, sempre cortado por alguma pergunta extra sobre o local, Juvino falou:
- Lú precisamos de mais um homem, sozinho não agüento esta mulherada!
- Ta bom.. Assim que você que você se formar, só falta mais um ano. Dá para esperar, não dá?
E fazer o que:...
- Meninas na fazenda Seis Marias, havia, um príncipe, uma princesa...
OripêMachado.