A CULTIVADORA DE FLORES DA PRAÇA

Era uma tarde de primavera. Não poderia haver época melhor para que a cena acontecesse. Nessas tardes que se sucedem depois de um período de chuvas e os tons de amarelo se misturam no céu com o azul, o branco, formando um cenário ímpar. A praça devido as chuvas dos últimos dias mais verde do que de costume, a não ser pelo vermelho, amarelo, rosa, laranja, de flores que se encontravam em efusão pelos canteiros da Praça Carlos Tesch. E no meio de tudo isso veio ela. Enxada na mão, mudas de outra, e uma vontade de deixar aquele local ainda mais bonito do que já é. Tinha traços bem definidos, e sua idade já passava a casa dos 70 anos. A alvura dos cabelos apenas comprovava que seu longo tempo de experiência e fazia um belo contraste com o verde da praça. De gestos vagarosos, mas decididos, com a pequena enxada que tinha nas mãos cavava o chão do canteiro e delicadamente depositava em cada cova uma muda de flor. O fim da tarde, o tempo ameno, e aquela velha senhora ali, plantando flores. Não sabia ela que naquele momento muito mais que flores cultivava corações ávidos por verem este mundo ser um lugar melhor para todos. Não se importava com os que estavam na praça, alguns a espera de suas conduções para irem para as escolas, outros apenas descansando após o estafante dia de trabalho. Era uma segunda-feira e ela ali serenamente, sem se importar com tempo, dia, mês, hora, sem estar envolvida com o estresse do fim do ano ou com os problemas da política nacional. Sua única missão naquele momento era plantar flores, cuidar da praça, gratuitamente, apenas pelo prazer de embelezar o local com mais espécies ou trazer mais sombras para aqueles que descansam sob as árvores daquele lugar. Pode ser que pela sua idade avançada talvez sequer chegue ver florir as flores que plantou ou desfrutar da sombra da árvore. Mas naquele momento estava ela, a CULTIVADORA DE FLORES DA PRAÇA dando uma grande lição a todos nós: Que nunca é tarde demais para começar, que nunca é tarde demais para se realizar uma boa ação, e não importa se colheres o fruto, porque o essencial é plantar. O essencial é ter consciência de que passamos por este mundo fazendo dele um lugar melhor não só para nós mesmos, mas também para os nossos semelhantes. E na sua simplicidade, na brancura do cabelo, nos seus gestos contidos, a voz daquela senhora falando: Cultive flores, mas não esqueça de cultivar o essencial.