Goleando

Goleando

Nunca se soube, ao certo, quem foi que deu bola pra quem. Foi lance limpo. O pontapé inicial. Começo de jogo. Coração apertado. Torcida animada. Mas fato é que, sem nem saber bem porquê, o jogo começou. No meio do campo, numa dança de pernas, corpos, olhos e um só beijo. Beijo roubado, porque a torcida presente já pressionava. Não havia juiz e o juízo eles perderam logo. Ficaram num jogo de retranca, por pouco tempo. Avançaram pela grande área, já meio sem pudor. Se embolaram numa troca de passe, de beijos liberados, sem cartão vermelho, de mão na bola, de boca na boca, pescoço, coxas, pura sedução. Na linha do penalti ninguém quis salvação. Ele matou no peito e ela nem ficou sem jeito, cabeceou, segura, e os dois chutaram pra gol!! Não tinha goleiro nem guarda redes, nem traves ou travessão naquele campo relvado semeado com suor. A torcida vibrava... o bandeirinha questionava, caramba!! quem fez o gol? Foi ele, ela, foi gol de amor? Ou gol anulado, ou gol suspirado, do fundo do peito, gol de bicicleta, ou gol de meio de campo, coisa de louco, de paixão! Ah, que nada, que importa, foi jogada limpa, linda!, gol de placa, em conjunto, parceria, de beijos de risos e ais... Ai, foi um gol tão bom!

Nunca mais se separaram. Porém, os dois nunca jogaram no mesmo time. Não dava!! Era amor demais pela camisa, de cada qual, de cada um. Mas, no varal, na segundona de sol, os uniformes balançavam juntos, cheirando sabão e limpeza. Combinaram tantos jogos, peladas inconsequentes, até que nasceram os gandulas, duas garotas e um macho (ia pro time dele, claro!). Galerinha do banco, a turma da fralda. Deixa estar, entre mamadeiras e beijos eles crescem e, devagar, eles aprendem.

Fizeram campeonatos internos, depois, abriram o jogo, formalizaram a história, e a fama deles correu mundo, virou copa, virou bandeira, virou conto de fadas. Foram mais do que pentacampões, foram amigos eternos, coisa de time amado mesmo, coisa de alma. E, quando penduraram as chuteiras, com cravos gastos e plenos de tantas lembranças da bola que rola em campo de paixão destrambelhada, de berros, de xingar a mãe avó e sogra do juiz, ficaram bem juntos, de mãos dadas, na linha de fundo, esperando o passe que, bem sabiam, apenas o amor sabe dar. Passe certeiro, seguro, em jogo de amar, nada de azar, às vezes com dor, com suor sempre e muito, jogo sem arma, jogo em calma, de cumplicidade de tantos primeiros e segundos tempos, tempos de eterna prorrogação, pra fazer jogo de cena, carinho, afeto, cravar golaços no coração.

E, olha só, lá vai a gorduchinha em pé de chute bom, e rola saudade, lá vai mané, rivelino, zico, edson, e um elegante e bom tostão.

Ele olha ela no olho, dá um piscadela marota, dá aperto de mão, respiram juntos e esperam, que o juiz - porra!!, apite logo o fim desse jogo tão bom!! Depois, é comemorar, beijar a camisa, enxugar a lágrima, arriscar ainda um samba, brindar com uma loira e esperar, sempre, por todos os outros e novos gooools !!!

Doraa
Enviado por Doraa em 28/11/2011
Código do texto: T3360471