Houve uma época que não existia escrita.
Existia sim, só que era cultivada por sacerdotes ou pessoas de alto escalão.
Homem culto existia? Sim.
E inteligente?
Também.
Esta sabedoria nos foi passada ao redor de fogueiras, em longas caminhadas, em forma de história.
Nossos professores contavam causos, toda lição de vida era ilustrada por exemplos e fatos, verídicos ou não, quem se importa?
A sabedoria era dividida, passada de um à outro.
Tive a felicidade de freqüentar esta escola.
Meu super herói, às vezes saia para passear comigo.
Diferente de todos da época, não fumava, bebia muito pouco.
"A bebida é a chave do inferno"; um homem bom, respeitador da lei e da moral, bebendo, cometerá a princípio deslizes, depois crimes hediondos.
Eu concordava com tudo maravilhado.
Ele olhava no horizonte, tirava o chapéu, passava a mão na testa e dizia:
- Amanhã vai chover. Está vendo aquela nuvem vermelha? Mais tarde irá ficar preta, cheia d’água.
Ele não falhava nunca.
Época de plantio, nome de plantas.
Os animais ele conhecia como exímio veterinário.


Punha sua grande mão no queixo e eu colocava a minha também.
Ele falava
- Hum.. Esta novilha está prenhe..
Logo eu dizia:
- O bezerrinho é meu?
Sim, eu era dono de todas as vacas (oito), bezerros e cavalos (uma égua) e uma mula.
Esta era dele, eu nem ousava pensar o contrário.
- O bezerro está virado, se não acertar a cabeça para o trazeiro morrem os dois.
Eu tentava sair de fininho:
- Vem aqui! Homem tem que aprender a fazer as coisas.
Ele enfiava o braço todo na bunda da vaca. Como ele sabia disso? Depois com o braço todo sujo falava:
- Ainda bem salvei seu bezerro.

Esta foi minha infância onde aprendi quase tudo
Depois fui para a escola, mas com ele aprendi a respeitar a natureza e os animais, principalmente os homens. Sei que minha história coincide com todas as outras. Infelizmente valorizamos tardiamente nossos heróis.
Mas onde estiverem com certeza embora rudes, são nossos pais e nos perdoarão esta falha.

Obs. Mesmo um velho como eu, teve infância.
Em meus arquivos aqui no lado esquerdo deste velho coração, moram milhares de pessoas. Que gosto muito inclusive.. VOCÊ.


                                    OripêMachado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 27/11/2011
Reeditado em 28/11/2011
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