FAÇA-SE A LUZ!
“Mas o que pode ser dito das forças, as misteriosas forças que governam o universo? Somente que a mais poderosa e, paradoxalmente, a mais frágil delas é aquela que, por falta de nome que melhor a defina, é chamada de Vida.”
C.R.S.
O útero de plástico permitia a visão do mundo e lhe dava a audição, mas lhe negava condições de livre movimento. Mas isto pouco lhe importava; tinha tudo que queria. O que sentia era apenas calor e segurança e uma sensação indefinível de ausência que o preenchia.
Em algum lugar em sua mente havia uma tela verde de fósforo e dedos macios - seus dedos macios - deslizavam sensuais, suaves... inconscientes por um teclado.
Os sons eram líquidos e agradáveis e as batidas aceleradas mantinham o fluxo de sensações misturadas... luz áspera, odores ensurdecedores, texturas brilhantes, ruídos acidulados e sabores inebriantemente perfumados. Mesmo através do filtro amniótico de seu aquário, percebia que as vozes transpiravam nervosismo.
As pequenas fibrilações do casulo fundiam-se aos movimentos tensos da afiada língua prateada que o penetrava.
A tela de fósforo desordenadamente apitava, hesitante, enquanto uma faísca de metal rasgava sua placenta. Seu delicado, sereno oceano estava sendo drenado pelo rastro afilado de luz, deixado pelo bisturi... e, lentamente acordou sobre o teclado de um computador.