A imperfeição das flores
Em um jardim nasceu um lindo e robusto pé de cravo e ao seu lado uma roseira. Uma rosa se encantou por ele. Os dois eram cultivados lado a lado mas um dia a rosa entristeceu ao ver que o cravo, agitado pelo vento, procurava disfarçadamente atrair a atenção das outras flores ao seu redor, esquecido que aquela rosa poderia perceber os seus segredos. O amor da rosa pelo cravo era tão grande que ela não via o tempo passar. Ali, sozinha ao lado do cravo nem mesmo os amigos não lhe faziam falta, todavia, cada vez que o vento agitava o cravo a rosa se entristecia pois seu coração avisava que as flores ao redor do cravo poderia acabar com o seu encantamento. Um dia de manhã, como de costume vinha vindo o jardineiro e em sua companhia o dono do jardim. Os dois, admirando a rosa observavam certa tristeza no seu semblante e uma lágrima que brotava dos seus olhos. Aproximaram-se e perguntaram por que a tristeza? A rosa permaneceu em silencio; ante a insistência deles em perguntar sobre a tristeza ela respondeu: veem aquelas violetas velhas ao redor do cravo? Eles disseram: sim, podemos vê-las, mas o que há? A rosa falou: elas me incomodam de alguma forma. Então o jardineiro e o dono do jardim sorriram e disseram: há, são violetas velhas, não servem para enfeitar o jardim, suas pétalas estão murchas e vão ser levadas pelo vento, não são de qualidade, são como ervas daninhas e vão ser arrancadas porque estão ocupando espaço, não chore, tire a tristeza dos olhos, você é a única rosa do jardim e mesmo tendo espinho não sabe ferir , o seu encanto será sempre seu. Aquele cravo também vai ter o seu fim, vai ser retirado do jardim para ser plantado em um vaso em algum canto, era de boa qualidade mas tinha o defeito de mentir para alvoroçar aquelas pobres violetas velhas para depois jogá-las em um canto qualquer que envolvidas pelas palavras vazias e sem amor acreditavam serem bonitas e tivessem o cravo arrastando aos seus pés. O dono do jardim disse que todas as flores têm vida, valores e defeitos e o jardim fora feito para aperfeiçoá-las para se tornarem vivas e perfeitas e, portanto, todas as flores do jardim tinham a sua história e cada uma iria plantar a sua própria semente que seriam corrigidas, replantadas e adaptadas aos bons costumes e boas maneiras, como também o cravo que desfez das violetas velhas e percebeu ser de má semente quando se viu só naquele vaso. Plantado e sem espaço para as suas raízes crescerem o cravo morreria, então se lembrou da doce e serena rosa que tinha raízes profundas na terra e poderia quebrar aquele vaso e lhe deixar livre com raízes em terra que pudessem prorrogar-lhe a vida e não mais morrer abandonado. Existem cravos que não são de boa qualidade e que só servem para enfeitar defuntos ainda indigentes e se as rosas possuem espinhos, não os usam para ferir, e sim, para sua defesa contra os que querem feri-las. Existem flores que possuem veneno e que exalam um perfume que por ser muito perfeito atrai suas vitimas e as mata intoxicadas. Na mesma flor que colhemos o mel que alimenta também encontramos o veneno que interrompe a vida. Não se deve brincar com as flores, elas dão vida mas tiram-na quando ainda não encontraram o estágio perfeito.