AS ÁRVORES DA MINHA INFÂNCIA

Em primeiro lugar, eu adoro árvores. Desde criança elas marcaram minha vida, pois povoavam o enorme espaço onde minha casa ficava mais pra direita, no meio do terreno. Eu tinha árvore pra cavalgar, uma limeira maravilhosa cujo tronco se abria em dois segmentos e um ficava perto do chão, de forma horizontal e tinha sido cortado a um metro de distância do centro.

Outras árvores também tinham seu significado e função. Uma era a bergamoteira de dormir, que se abria em galhos muito juntos e onde eu colocava um pedaço de acolchoado velho, e de onde um dia , ouvindo o silêncio de uma sexta-feira da paixão, tive uma revelação cujo conteúdo esqueci, mas cuja sensação me acompanha até hoje. Havia o pé de laranja-do-céu, onde a gente adorava subir e se deliciar com as frutas muito doces, tendo fugido da mesa de almoço em que quase me obrigavam a comer . Havia ta árvore magarinha da laranja mandarina, que mesmo verde já era docinha.

Enfim, nossos dias eram povoados por árvores ,nossas amigas íntimas e tenho certeza, foram trocas muito especiais que tivemos. E, se pudessemos observar tais troncos nas suas camadas, na certa encontríamos sinais não deixados somente pelos períodos de seca ou períodos fecundos, mas algum sinal das nossas mãos e das nossas almas em desenhos sui generis. Assim, da mesma forma, nossos corpos receberam a energia daqueles seres vegetais, de tal forma que nos tornamos um pouco um deles, numa metamorfose produzida em momentos de inocência e sonho.

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 04/01/2007
Reeditado em 06/04/2008
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