A ROSA SE FOI



 
 
 
Meu sobrinho, falou para o meu filho, e este foi incumbido de me dar notícia ruim: “A Tia Rosa foi internada no CTI e fizera uma cirurgia de retirada do pâncreas”. Os sobrinhos me dariam notícias dela. E se passaram uns dois dias. Liguei para os sobrinhos que me disseram que ela estava sedada e bem, e que me avisariam o dia de visita e a melhora do seu estado.
Demoraram em me dar notícias até que soube que ela estava melhor e desperta. E que combinariam dia para eu ir vê-la.
Um telefonema da minha filha me alertou: _ “Mãe vai ver a Tia Rosa”.
Chamei um taxi e fui de imediato, sem esperar mais notícias.  Casa de Saúde São José, 4º. Andar, CTI,
Box 13. Muitos corredores de se perder lá dentro.


Há muitos anos parei de falar com ela, e acabei deixando-a na Fazenda fazendo o que quisesse senhora do lugar.  Deixei a minha casa e terras e me desprendi de tudo que deixara em casa.
E foi bom este desprendimento alcançado, pois encontrei a alegria no Rio e na Palavra.
E me esqueci da Rosa.

 
Mas algo mais forte, que é agora,
ela está diante da vida e da morte.

Minha última irmã.
Fui plena e solta, CTI Box 13, CTI Box 13, só visando ela e a minha presença para ela nesta hora. Irmãs.
Ali fiquei passando paz e alegria.

Ela queria falar muitas coisas, mas não se entendia a voz. Foi um momento bom, intenso, um encontro.
Ela pareceu feliz comigo ali.  Tempo reduzido de visitas, debrucei-me sobre a cama alta e passei as mãos em seus ombros, a nuca e mãos. O cabelo branco preso em coque, que acariciei. Falando palavras de som bom. Testa alta em que passei a mão, e na cabeça também, enquanto sorria todo o tempo.

Hora de sair, alcancei sua testa e beijei. E, próxima ao seu rosto, falei palavras verdadeiras que saíram do meu fundo livre:
Ao seus olhos limpos e brilhantes e, bem perto, falei direto e sua expressão boa de me ter ali junto a ela:
         _Rosa, você está bonita! Seus olhos brilham!
Ela gostou do que ouvira, pois era a verdade. E falei
         _ Rosa, vim aqui para te trazer a minha energia positiva...
     ...e o amor...
Sua expressão mostrou o quanto valia!
E continuei:
         _Estou rezando para Nossa Senhora pedindo que Ela te proteja e te ajude o tempo todo. Fique forte e tranqüila. Se precisar pode me chamar.
 
Foi muito emocionante, pois fora um encontro e uma troca de compreensão. Nada do passado era alguma coisa. Só aquele momento o era.
A emoção perturbadora, forte demais, eu precisava sair. Vi que fiz muito bem a ela.
E saí. Lá fora encontrei o médico dela que me disse que ela estava muito melhor, mas que ainda corria risco.
Ia para o elevador, precisava ir, o peso esmagador, e me chamavam que eu esquecera a bolsa. Voltei e me deram a bolsa.
E voltei para casa. Muito perturbada, taxi e volta a casa, Graças a Deus.
         Como passei força e amor para ela!
         Eu tinha falado, _ Você está bonita. Ela gostou tanto.
Saí de lá às 18 horas.
Às 19 horas o filho, meu sobrinho, telefona que a mãe gostara muito da minha presença lá. Eu falei pra ele: Eu também! Dê-me notícias.
Às 5 da madrugara veio a notícia, ela tivera uma hemorragia, estava em coma e ia voltar à cirurgia.

         Abalo. A confiança e a esperança deram lugar ao que escapa às nossas mãos, a dúvida e a esperança.

Às 19 horas o telefonema:
         “Ela não resistiu”

Liguei para minha filha e contei. E ela me disse: _Mãe, ela em coma não está sentindo nada, não vai ver nada, nem ter noção de nada.
         Perturbação grande, mas confortadora. Saber que deixou de sentir o medo, a dor e a morte.
 
         Ela se foi.