Sociedade Cosmética
SOCIEDADE COSMÉTICA
O mercado de produtos cosméticos no Brasil cresce a taxas espantosas mesmo em períodos de crise. O crescimento médio nos últimos 10 anos foi de 10% a.a., mostrando performance bastante superior a qualquer outro segmento. O culto ao corpo também fez com que proliferassem as academias onde malha-se desde as primeiras horas da manhã e avança-se noite a dentro. Tudo para atingir a beleza do corpo e alimentar o narcisismo. Criam-se produtos para todas as classes e todos os biotipos. Ícones da moda, cinema e televisão são chamados para divulgar as vantagens e os milagres de cada criação. Nas academias transpira-se para atingir o orgasmo individual, cercado de aparelhos e espelhos que retratam a forma e dão a dimensão e a inspiração na busca da beleza. É ótimo que cada vez mais cuide-se do corpo e indiretamente da mente, afinal estamos no mundo das aparências e estar “out” significa estar alijado da tchurma, da moda, enfim, do mercado. Pelo lado econômico há a geração de empregos e consequentemente a distribuição de renda que acaba alavancando outros segmentos e negócios, contribuindo para o crescimento.
Juvenal, poeta romano, escreveu “mens sana in corpore sano” procurando retratar a importância do equilíbrio saudável entre mente e corpo.
Todavia, em nosso país há um notório desequilíbrio, a balança pende muito preponderantemente ao corpo deixando à mente apenas as divagações alienadas e disléxicas, provocando performances lastimáveis em aprendizado, rendimento escolar e consequentemente gerando falta de competitividade, cultura e cidadania. Nosso desempenho educacional fica muito aquém do razoável em relação a países do G-20 e de mais uma série de outros não incluídos nesse grupo.
Assim, enquanto estamos nos bronzeando, penteando, malhando,etc.... as oportunidades de desenvolvimento acelerado, com menor taxa de corruptores e corruptos, com melhor distribuição de renda, com menor criminalidade e maior segurança, vão diminuindo e tornando cada vez mais difícil termos a visão de um país mais digno para as próximas gerações.
Enquanto não dermos a formação das mentes, valor pelo menos equivalente ao que damos ao corpo, continuaremos amargando viver numa sociedade cada vez mais presa a vaidade e ao supérfluo e menos apta a desfrutar as belezas existenciais e também as materiais.
O nosso Palácio dos Espelhos deforma a nossa imagem, tal qual nos parques de diversão,
transforma-nos em seres disformes que riem de suas próprias aberrações.