O contato  humano      



 
 
 
                        Eureca!!!!  Já sei  por que escrevo. Escrevo com uma única intenção: tocar no meu próximo que ainda não conheço.
                        E para isso faço todas as peripécias, me contorço feito homem de circo.
                        Faço acrobacias com as letras, faço versos, escrevo poemas, crio monólogos...   E até invento e conto  histórias com as minhas crônicas. Tudo isso para encontrar quem está do outro lado.  Falo da vida, das pedras, das flores,  do universo e dos bichos, que estão sempre do nosso lado. Tudo isso para tocar no outro.
                        Mas não pensem que é tudo alegria. Não é nada fácil escrever.
                        Temos que dividir os assuntos, senão não nos entenderiam. Hoje, por exemplo, estou numa  indecisão danada:  escrevo sobre o homem espantado diante da vida ou sobre o homem apaziguado, vivendo em meditação transcendental?
                        Paro e vejo como está o meu emocional, para me decidir. Logo percebo meu estado: assustado, como sempre!
                        Então, vou por esse caminho de espanto em espanto. Olho para a vida e  me espanto.   Me espanto de estar  vivo e pensando em tanta coisa. O pensamento me levando pra lá e pra cá.  Monto no meu tapete persa e saio voando, voando baixo para ver as pessoas, quem sabe posso  até dar  carona para uns e outros.  Será que esse tapete sabe qual é a minha praia?  Será  que ele sabe o que eu gosto de fazer?  Será que ele conhece meus segredos?
                        Se eu pudesse falar com ele diria das minhas angústias, das minhas crises existenciais, das muitas dúvidas e de  nenhuma certeza.  Da minha tristeza em ver e sentir que nós humanos somos muito violentos e ainda acreditamos na violência para resolver nossos probleminhas tão sem sentido.  Diria a ele dos meus medos. Medo de bicho, medo de gente, medo do mundo e medo da vida. Ainda sou um asteca sacrificando seus filhos para o Deus Sol, com medo da sua vingança. O homem moderno, só no nome, não é um asteca?    Tenho certeza que é. Um selvagem medroso. E por isso mesmo violento.                        
                        Procuraria manter a calma, e pediria ao tapete que me levasse de vez daqui, saísse desse universo. Pela primeira vez,  teria coragem para enfrentar os confins de outros mundos para encontrar pessoas que soubessem escutar o meu silêncio, indo ao encontro do silêncio do outro, como narra certa lenda judaica,  pessoas confiáveis, não para me confortar. Não! Mas para me entusiasmarem  com algo tão raro hoje: um  sorriso franco, braços que me abraçam de verdade, e, finalmente, encontrar aquele olhar penetrante, sereno, um olhar amoroso, mostrando uma alma doce e limpa.  Um contato direto, de alma para alma...