PRELÚDIO DE UMA SAUDADE...
Por: Lindoval Rodrigues Leal
Ela está só. A noite começara com as sombras da escuridão envolvendo os últimos raios de sol que teimavam em persistir. Um ser canino late lá fora. Da janela do seu quarto extremamente organizado, ela solitária, observara o lusco fusco do morrer do dia. No peito uma dor lacerante e persistente a pulsar paulatinamente em ciclos constantes. Era a dor da saudade! Sim, só podia ser... Maltratando; espezinhando, ferindo a ferro em brasa o coração esquálido e agonizante.
A distância a que fora submetida, por imposição do destino, parecia um castigo imenso traçado pelo imponderável, que a escolhera para sofrer as agruras da saudade e da solidão; a condenara a ficar longe, mais muito longe da pessoa amada. E pior, sem opção de escolha! Tudo já estava previsto e acertado; tinha de encarar, não tinha como fugir! Era preciso cumprir esta etapa e tentar entender as peripécias da vida, que perfeita, seguia seu curso, alheia a vontade de tudo e de todos, cumprindo rigorosamente o compêndio de leis desse mesmo famigerado destino.
Um turbilhão de pensamentos já passara por sua cabeça durante o dia. Estaria ela certa ao brigar efusivamente contra os seus sentimentos? Estaria ela errada em contrariar a lógica imposta pelo cotidiano do dia a dia e o “certo” aos olhos da sociedade e do meio a qual está inserida? Ela não tinha as respostas de imediato, só dúvidas... Vida cruel! O que é o certo? O que é o errado? Esses questionamentos estavam invadindo a sua mente; pairando e martelando o seu cérebro numa fúria muito louca! Consumindo assim, toda sua paz interior.
Os acontecimentos dos últimos dias a deixaram sem ação e perplexa! Não podia acreditar que após muito tempo pudesse sentir novamente e com intensidade os sentimentos aflorados naquelas últimas madrugadas em claro, viajando no impossível. É... Não podia! Tinha de ser racional, tinha de ser prudente. A razão deveria prevalecer, sempre! Todavia, ela sabe que o ser humano é muito pequeno diante do inexplicável, é totalmente imperceptível e dominado pelo fogo causticante da paixão e sucumbe como se fosse uma frágil pena diante do gigantismo de um tornado, que devora sem dó nem piedade quem cruza o seu caminho. Assim é a Paixão! Bendita Paixão! (ou maldita???)
O uivo do vento lá fora e o crepúsculo da alvorada anuncia a chegada de um novo dia. Mais um! Talvez o frescor da manhã, traga um antídoto para a dor da saudade; traga de volta a razão perdida nas incontáveis horas vividas e entregues a um mundo paralelo, onde tudo é perfeito, onde tudo é possível! Adorável mundo fictício! Mas, e a realidade? Como fica? Melhor levantar-se e tomar um achocolatado quente e quem sabe mais tarde comprar uma roupa nova no shopping... Um vestido “arrasante” seria uma boa pedida!
Ipeúna-SP, 25 de Novembro de 2011.