LAMENTO DE UM JURITI-DO POETA ONILDO BARBOSA
LAMENTO DE UM JURITI
Na verdade é de autoria dos poetas Onildo Barbosa e Clóris Andrade, e não só do Onildo, como pus no título. Este poema serve de reflexão, nos motiva a trabalhar por um mundo melhor, a começar pela preservação da nossa faúna e nossa flora.
LAMENTO DE UM JURITI
Autores-Onildo Barbosa e Clóris Andrade
CERTA TARDE EU CONTEMPLAVA
O SOL QUE SE ESCONDIA
QUANDO UM PASSARO POUSAVA
NUMA JUREMA QUE HAVIA
ERA UM POBRE JURITI
TAO TRISTE QUE EU PERCEBI
QUE ELE QUERIA FAZER
NO SEU CANTO UMA DENUNCIA
CADA NOTA UMA PRONUNCIA
TAO FACIL DE SE ENTENDER
NA MELODIA TRISTONHA
QUE O JURITI TRAZIA
MOSTRARÁ A SENHA MEDONHA
DE UM ATO DE COVARDIA
O JURITI SOFREDOR
ME DISSE ASSIM: CANTADOR
VIVER PRA JÁ NÃO PRESTA
VIM LHE RELATAR UM FATO
UM CRUEL ASSASSINATO
QUE ABALOU A FLORESTA.
NÓS PASSARINHOS VIVEMOS
SEMPRE DE ARRIBAÇÃO
MUITORS HORRORES SOFREMOS
NA CHEGADA DO VERÃO.
SOMOS VITIMAS DAS QUEIMADAS
DAS ARAPUCAS ARMADAS
DOS DISPAROS DO GATILHO
O MEDO NOS APAVORA
NOSSA FAUNA, NOSSA FLORA
NÃO TEM MAIS O MESMO BRILHO.
O FOGO QUEIMANDO A RAMA
A MANDO DOS FAZENDEIROS
OS LAGOS VIRANDO LAMA
NOSSAS FLORES, CINZEIROS.
OS HOMENS NÃO NOS DÃO TRÉGUA
VOAMOS LÉGUAS E LÉGUAS
PROCURANDO ÁGUA E SEMENTE.
MAS ONDE VAMOS POUSANDO
TEM SEMPRE ALGUÉM ESPERANDO
QUERENDO MATAR A GENTE.
NA CHEGADA DO INVERNO
O CANTO SE ORNAMENTA
MAS AÍ VIRA UM INFERNO
PORQUE A CAÇADA AUMENTA.
SE A GENTE POUSA NUM GALHO
BEBE UMA GOTA DE ORVALHO
NÃO SE PODE DEMORAR.
NOSSO SOSSEGO É INCERTO
TEM SEMPRE UM CAÇADOR PERTO
PRONTO PARA NOS MATAR.
HOJE PRA MEU DESENGANO
OCORREU O CRUEL DESTINO
PAREI NA FRENTE DO CANO
DA ARMA DO ASSASSINO.
QUANDO DIA CLAREOU
MEU FILHO ME CONVIDOU
PRA IR BEBER NO RIACHO
NO LUGAR QUE TEM BOM CLIMA
FLORES E FRUTOS POR CIMA
E ÁGUA FRESCA POR BAIXO.
LA OUTRAS AVES FELIZES
SEMPRE BEBEM DE MANHÃ
SABIÁS, NHAMBU, PERDIZES
CANÁRIOS, GURIATÃS.
E EU NÃO TINHA PERCEBIDO
QUE TINHA UM HOMEM ESCONDIDO
NUMA MOITA DE CAPIM.
PARA AUMENTAR MINHA MÁGOA
ANTES QUE EU BEBESSE A ÁGUA
O HOMEM ATIROU EM MIM.
O DIA FICANDO CLARO
DE REPENTE ESCURECEU
EU SO OUVI UM DISPARO
A FUMAÇA ME ENVOLVEU.
O CHUMBO PASSOU RASPANDO
VI MUITAS PENAS VOANDO
E ENTRE AQUELE DESCONFORTO
TENTEI DEIXAR O RIACHO
SEM QUERER OLHEI PRA BAIXO
AVISTEI MEU FILHO MORTO.
FIQUEI DESORIENTADO
EM MEIO AQUELE ESTAMPIDO
VOAVA PRA TODO LADO
VENDO MEU FILHO FERIDO
AINDA ESTAVA RESPIRANDO
MAS VI O HOMEM CHEGANDO
COM ESPINGARDA DE MOLA
PEGOU MEU FILHO DE MÃO
BATEU COM FORÇA NO CHÃO
E COLOCOU NA SACOLA.
OUTROS PÁSSAROS VOARAM
EM BUSCA DE OUTRO RUMO
NAS PENAS QUE ME FALTARAM
VOAR E PERDI O PRUMO.
NO TIRO EU PERDI AS PENAS
RESTARAM ALGUMAS, PEQUENAS
AS MAIORES EU PERDI.
E COM ESTA DOR EM MEU PEITO
SEM PODER VOAR DIREITO
EU TIVE QUE PARAR AQUI.
MEU FILHO CANTAVA LINDO
NO AMANHECER DO DIA
QUANDO O SOL VINHA SURGINDO
ERA A MAIOR ALEGRIA
CANTAVA AO SOM DA CASCATA
SUA VOZ ROMPIA A MATA
DANDO VIDA À NATUREZA
SEM ELE ESTOU INFELIZ
O MUNDO DOS JURITIS
PRA MIM PERDEU A BELEZA.
ME RESPONDA CANTADOR:
VOCÊ JÁ MATOU ALGUEM?
ATIRE EM MIM POR FAVOR
EU QUERO MORRER TAMBEM.
NESTA HORA EU PERCEBI
QUE O POBRE JURITI
TENTOU CANTAR MAS NÃO DEU.
ENTRE DOR E DESESPERO
O PÁSSARO CANCIONEIRO
ABRIU O BICO E MORREU.
DEPOIS DA CENA QUE VI
UM SENTIMENTO ME RESTA
EM NOME DO JURITI
VAMOS SALVAR A FLORESTA.
VAMOS FREAR AS CAÇADAS
DAR UM BASTA NAS QUEIMADAS
PRESERVANDO FAÚNA E FLORA.
PORQUE NO RITMO QUE VEMOS
O PLANETA EM QUE VIVEMOS
PRA SE ACABAR NÃO DEMORA.