Nomes e Datas
Quando foi rezada a primeira missa no Brasil?
A resposta a gente tinha de saber de cor. Isso lá pelo ginásio (Primeiro Grau hoje), quando no ensino de História priorizavam-se nomes e datas, muitas vezes em detrimento dos fatos.
Ninguém me explicou a importância daquele fato. Ela estava implícita na hegemonia do catolicismo. Ir à missa todos os domingos. O Círio de Nazaré, tradição cultural até hoje. Uma coisa encará-lo sob a ótica da cultura, outra sob a do cunho religioso.
Quando em Sexus, de Henry Miller, li que ele “não beijaria a bunda do Papa”, ou beijaria (não lembro), não posso negar o espanto, a surpresa que tive. Devia ter menos que 20 anos. Não entendi muito bem.
Depois que a gente vive mais um pouco e toma conhecimento das perversidades provocadas pelos homens a frente das igrejas por eles criadas e desenvolvidas, das atrocidades da “Santa” Inquisição, das barbáries decorrentes do colonialismo europeu (Portugal e Espanha), dizimando civilizações como a dos maias, dos incas e dos astecas, que viviam condições de felicidade que dificilmente serão experimentadas de novo por nós do Ocidente, depois disso tudo chego a pensar que teria sido melhor que a primeira missa no Brasil nunca tivesse acontecido.
Esse discurso pode parecer desnecessário na medida em que sugere uma oposição a algo presumivelmente inevitável. Tinha de ser assim. Tinha que dar no que deu. O colonizador europeu chega aqui com seus espelhos, com o conhecimento pleno do valor do ouro e atrai a atenção dos nativos a partir do oferecimento de suas bugigangas. E, o que é pior, procura substituir a tradição religiosa local por um conceito de religião completamente desconhecido pelos nativos. Sob a alegação de que aquela era a conduta correta, porque “nós somos civilizados e superiores a vocês”. O meu Deus é melhor que o teu. Sem ligarem a mínima importância para o tipo de qualidade de vida dos que estavam prestes a serem colonizados. E nós, no ginásio, tínhamos ainda que decorar os nomes dos jesuítas famosos. Seus poemas, cartas, etc.
Entretanto, apesar de parecer inócuo esse discurso, ele é também inevitável, se considerarmos a necessidade que temos de dar continuidade ao nosso aperfeiçoamento, na busca por aquilo que somos. E também de descobrirmos o que está além dos ventos, das nuvens, ou dos momentos ou movimentos do tempo, sempre do nosso lado.