Cruz e Souza
Um símbolo diferente, baluarte de uma arte imponente. Desterro, novembro de veraneio na ilha da magia, que depois em cidade de flores se transformaria. Se filho de escravos, negro seria, e cor de pele e sobrenome eram ditames de condição social para a época – se não até hoje – o que foi inadvertidamente compensado pelo especial afago daqueles que além da alforria formal dos pais de João, ainda lhes compensaram materialmente com a educação do menino que, além disso, carregou sobrenome adotado. Cruz e Souza.
Poeta sem par, pai do simbolismo, maior expoente da arte literária catarinense; talvez tudo isso; talvez nada disso; por certo, o marco referencial da arte escrita e declamada da ilha de Santa Catarina, orgulho de manés e de todo um povo que se orgulha de ter em Cruz e Souza a máxima expressão da sua arte, de um a todos os outros extremos da do santo e belo estado.
Mas há falta! Uma ausência incompreensível. Cruz e Souza não habita os colégios, as rádios, e os meios de comunicação de alto alcance. Há risco! O perigo iminente de um esquecimento injusto e impróprio dos grandes pensadores. Que sempre haja alguém disposto a ler um trecho de Cruz e Souza para uma criança, especialmente as nascidas na ilha; as catarinenses; as sulistas; as negras; as coloridas; as brasileiras; as estrangeiras residentes no país; as crianças. Especialmente a toda e qualquer pessoa de idade, gosto ou peculiar característica que guarde na essência poética da sua existência uma aura infantil que, salvo melhor metáfora, é o maior simbolismo da poesia, seja em prosa ou não.
Que o toque da palavra
Do sinal do Cruz
Nunca insosso
Permita-nos sonhar
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Escárnio perfumado
Cruz e Sousa
Quando no enleio
De receber umas notícias tuas,
Vou-me ao correio,
Que é lá no fim da mais cruel das ruas,
Vendo tão fartas,
D'uma fartura que ninguém colige,
As mãos dos outros, de jornais e cartas
E as minhas, nuas - isso dói, me aflige...
E em tom de mofa,
Julgo que tudo me escarnece, apoda,
Ri, me apostrofa,
Pois fico só e cabisbaixo, inerme,
A noite andar-me na cabeça, em roda,
Mais humilhado que um mendigo, um verme...