Não espero que acreditem.

As coisas que mais me tocam, eu tenho dificuldade em traduzir em palavras, porém vou contar exatamente como aconteceu sem esperar que acreditem; já que se me contassem eu ficaria em dúvida.

Fui Professora de uma senhora que pra mim era muito especial por ser filha de um dos meus professores no Magistério, e com ele se parecer bastante, além de ter sido ela, colega de trabalho da minha Professora numero UM, a quem me reapresentou. Imaginem a minha gratidão.

Quando conheci Del, ela e o marido eram aposentados e, viajavam muito no seu Motohome, paixão de ambos, e por isso, às vezes, ela ficava até um mês sem ir às aulas, mas quando ela sumiu por uns seis meses, logo ficamos sabendo que estava com uma doença incurável.

Passei a visitá-la regularmente, e muitas vezes, Ana outra aluna, me acompanhava. Elas se conheciam desde moças e ambas na época tinham 70 anos.

Após um ano e meio de estreita convivência, Del faleceu.

Recebi a notícia às 20h30m, mas decidi avisar Ana e as outras colegas, somente na manhã seguinte.

Acordei cedo, liguei pras alunas e me ofereci a levar Ana no meu carro para o velório, aonde chegamos às 07h15min. As poucas pessoas que havia estavam do lado de fora.

Ana e eu olhávamos Del no caixão sem acreditar no que estávamos vendo: Del sorria!

Calada eu olhava pra Ana e pra Del.

“Você está vendo o que eu estou vendo? Disse-me ela.

-Sim, respondi com a voz embargada: ela está sorrindo!

Ficamos ali paradas velando a amiga que nos era tão cara, com quem tanto aprendemos e de quem fomos testemunhas nos sofrimentos sem queixas e, agora na sua libertação sorria!

Assim que nos sentamos, chegou um dos seus de Del, emocionadíssimo. Erguemos-nos ao mesmo tempo, prontas pra lhe dizer que iria ter uma surpresa consoladora; mas ao olharmos pra Del, o seu sorriso tinha se apagado...

Guardamos no coração a visão de Del sorrindo como especial carinho a nos duas e, evitamos compartilhar esta emoção pra não corrermos o risco de pensarem que a gente estivesse mentindo.

Este fato ocorreu há 13 anos quando ainda não se fazia maquiagem em mortos. Se bem que a Del havia pedido a sua cunhada que lhe colocasse batom e blusa vermelhos e ela estava tranquila e se assim se pode dizer, bonita.

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 24/11/2011
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