Tristeza Boa

 
 
 
                        O meu eterno amigo Artur da Távola certa vez fez uma crônica dizendo que tristeza é bom! Não disse que é boa, porque na verdade tristeza é ruim, mas, como ele disse, às vezes dá um gosto bom na gente.
                        Inspirado no que ele disse e nas tristezas boas que ele enumerou, ouso dizer, ao contrário, que a tristeza pode até ser boa mesmo, e lembrar das minhas tristezas boas, fazendo com que o leitor também se lembre das suas.
                        Há  um tipo de tristeza que tem um lado bom.
                        Não tá entendendo nada, não é , malandro?
                        Infelicidade é que é o diabo, aí, sim é dureza. Pode chegar na depressão!
                        Tristeza boa é aquela que sentimos quando nos lembramos dos amigos sinceros que tivemos pela vida afora. E que desapareceram da vida da gente, cada um tomando o seu rumo.
                        Tristeza boa é aquela que sentimos quando estávamos numa casa aconchegante, de preferência no alto da serra, sentindo um frio gostoso,  e cai aquela chuva forte, que vai lavando tudo e sentimos aquele cheirinho de mato.
                        Tristeza boa é quando lembramos  daquela mulher que  foi     uma  amiga legal, que soube o tempo todo confiar  na  gente, abrindo sem reservas o coração,  e que depois o destino nos tirou do caminho, ou fugimos dela, com medo não sei de quê!
                        Tristeza boa é pensar naquele pão com bastante manteiga, que eu, garoto,  molhava no  café com leite bem quente, antes de sair para o colégio.      
                        Tristeza boa é  saber que tudo poderia ser melhor, que poderíamos ter encontrado aquela pessoa especial. Mas apesar dessas carências, estamos vivos e tentando fazer  o melhor. É saber que, apesar de tudo, ainda somos bons...
                        Tristeza boa é me lembrar do tempo que levava minhas filhas à praia  em nossa casa em Rio das Ostras, daí o retratinho com minha filha mais nova, que pode ser visto na minha escrivaninha.       
                        Tristeza boa é pensarmos num futuro bonito para a humanidade. É o que eu já chamei um dia de saudade do futuro...
                        Quer dizer: tristeza boa dói também, mas tem pouca força, dói pouquinho e se mistura com um  pouco de alegria, por mais estranho que isso pareça.
                        Tristeza boa é isso que eu estou fazendo agora, fazendo uma crônica boba para sentir alguma coisa boa em algo que está doendo em mim.  
                        É isso aí, malandro, deu pra entender?