POLICIAL FEMININA

     Eles se acomodam entre caixas, dormem sob papelões. Não fazem mal a ninguém, além deles próprios, viciados em crack. São desempregados, descamisados, sem tetos, moradores de rua. Mas a rua, que acolhe os ratos, rejeita esses humanos.

     Vem a polícia e dá um baculejo. Coloca os caras contra o muro, apalpando-os à procura de drogas ou algum produto de furto. Assustados, todos olham para o chão, sem perceber o olhar dos passantes. O espetáculo em via pública atrai uma platéia curiosa. Gente igualmente vadia, ali contemplativamente assiste ao ostensivo abuso de autoridade subjugar a irremediável miséria humana.

     Entre os guardas, uma policial feminina mais ousada, ridiculamente autoritária e agressiva, masculinamente abusada. Agitando os braços, dá ordens empurrando aqueles homens, alguns bem jovens, de mãos erguidas e apoiadas às nucas. Três policiais parecem obedecer ao comando daquela mulher, cujo corpo disforme se atola na farda a apertar-lhe as gorduras. Ela exibe-se para os colegas e para todos que passivamente a observam. Salta, eleva e sacode os braços, dá socos no vento e  pontapés violentos com as botinas sobre as caixas de papelão. Grita às costas dos homens imobilizados.

     Um “sargentão” de arma em punho, tendo um grupo de pobres coitados sob a sua repressão. Botinas pretas, boné a ocultar-lhe a meia testa, cinto carregado de munição. Ao lado direito da cintura, o suporte do revólver. Ali o show se prolonga por alguns minutos, até a policial sentir-se “o máximo”, admiravelmente observada por uns e odiada por outros que, como eu, observam-na revoltados.

    Sinto nojo daquela policial. Duvido categoricamente da feminilidade dela. Penso coisas horríveis; instintos vingativos se apossam de mim. 

    Sinto vontade de esbofeteá-la. E comento com alguns próximos a mim: - Tirem a arma das mãos daquele “sargentão” pra ver se ele/ela encara sequer um pivete, quanto mais um bandido qualquer desarmado. E penso: coitado do homem que dormir com esse estrupício. Deve amanhecer fedendo a sovaco cabeludo, se é que isto de fato é mulher, pois, ao que parece, entre aquelas pernas pendura-se outro cassetete. E repito: tirem a arma daquele “sapatão” travestido de policial feminina e verão como ela desmunheca diante de um macho, e se mostra um veado policial.



Foto Google.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 23/11/2011
Reeditado em 26/02/2012
Código do texto: T3352545
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