Um lugar de sonhos e desejos

Se há um lugar que eu tenho uma inexplicável atração é a rodoviária, não importa o tamanho, o local, de onde vêm os ônibus. Mas temos a certeza que cada pessoa que está por ali é uma batalhadora, no aeroporto, muitos são nascidos em berço de ouro, outro tantos que pagam as passagens às vezes em classe executiva não é o passageiro, mas a empresa. Na rodoviária não! O dinheiro da passagem veio do suor da própria testa ou da testa de um tio caridoso que anseia ajudar o sobrinho a ter umas férias na roça ou de um pai de família saudoso que irá passar os dias juntamente com esposa e filhos.

Somente na rodoviária esse tipo de história tem lugar, o cheiro é diferente, é cheiro de povo, sofrido e ao mesmo tempo feliz, mágica essa que não se explica, apenas vive-se. As malas são misturadas com sacos e caixas, coisas caem pelo chão, meninos gritam e correm como se estivessem em um enorme parque de diversões. Pais atentos para não perderem o filho de vista, mães preocupadas com os horários de saída dos ônibus associada à complicação de achar a bendita plataforma de embarque, que nunca é a mais próxima de onde estamos sempre temos que contornar todo o prédio carregando malas, caixas, sacos e controlando os meninos. Ana é uma dessas guerreiras que vez ou outra habita a rodoviária, veio de longe para tentar a vida em São Paulo a convite de sua amiga que havia conseguido um emprego em uma fábrica nova que estava produzindo produtos da alta moda associada à alta tecnologia, evidente que boa vontade e inteligência Ana tinha de sobra, mas faltava o conhecimento específico que circunda o mundo fabril como técnicas de produção e administração. Porém em Ana sobrava gentileza, capacidade de se relacionar e o principal querer o bem das pessoas. Com isso Ana foi se mantendo no emprego, e conquistando seu espaço, contudo a saudade de casa, do cheiro da terra batida, do zunido dos sobrinhos correndo pela casa era algo que sempre sentia no ar durante a noite em seu pequeno quarto na pensão. Não demorou um ano e Ana estava de volta à rodoviária, dessa vez não com um olhar de esperança com sim com a certeza do coração que sua felicidade não estava em um emprego rotineiro, mas sim nas amizades verdadeiras de muitos anos, na credibilidade do povo que simplesmente assina uma lista na mercearia como pagamento e onde todos são chamados pelos nomes. Ana teve que passar um ano com um crachá no peito para que conseguissem chamá-la pelo nome e hoje apenas pelo rosto, os garotos ansiosos, os homens maduros esperançosos a chamam de Ana. Ela sempre sorri, feliz de ter tido a coragem e a determinação de ter pegado o ônibus de volta para a felicidade.

São histórias como essa de Ana, que compõe o verdadeiro Brasil, pessoas determinadas, que não se cansam de lutar com a certeza que a felicidade não está longe, está mais perto do que se pensa, Ana tem a habilidade de fazer do caminho para a felicidade algo leve, onde muitas vezes a felicidade é o próprio caminho.

DVM
Enviado por DVM em 23/11/2011
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