CARTA A QUEM POSSA INTERESSAR
Nos pegamos dando muita importância a quem somos, pensando e crendo que somos. Mas afinal que relevância tem nossa pequena dor diante de uma Dor humana maior, continua? É certo que essa Dor é de todos, mas ela não é única e exclusiva. Ela é inerente ao próprio existir, e será perpetua porque continuará no vazio, e no silencio da nossa morada.
Muitas coisas nos afligem, nos perturba durante o correr do dia, pelo vagar da noite, na solidão de algumas grandes horas, nas lacunas que os diálogos encontram. Gemem nossos corações sem paz.
Que importância tem o meu afeto a qualquer pessoa se dele ela nem precisa? Nem reclama, mas mesmo assim abriga, insistente em nossos íntimos nossas ternuras vãs que deslizam como corrente de brisa, mas nem refrescam, nos inquieta com calor, uma sensação de languidez e a lassidão total da derrota.
Saber que a Morte nos espreita em cada esquina, a cada minuto, a cada dia nos impele a esta vastidão vã mesmo nos sabendo inúteis. E como inúteis somos. Sem construir nada de útil ao próprio planeta nos enchemos de parafernálias que só nos serve por um curto período em que de vazio a vazio vamos errando em nossos calendários que nos serve de bussola para afinal nossa destruição, sendo antes carcomidos pela degeneraçãode nossa massa vulgar.
Rodney Aragão