Batismos

Às vezes precisamos estar antenados com novos nomes, que parecem identificar coisas novas. Criações sutis destinadas a modificar o nosso imaginário. Como se ele fosse ficando carente de novidades.

Temos, por exemplo, as chamadas "políticas públicas". Certos políticos falam na TV, especialistas nomeiam e..., pronto, estamos nós lá fazendo uso do termo.

No campo do atendimento psiquiátrico, a Internação Compulsória pode se constituir em uma política pública. E nessa área podemos destacar algumas expressões, usadas por especialistas e veiculadas pela mídia, com as quais vamos nos acostumando. É bom lembrar que por Internação Compulsória entende-se o recolhimento de moradores de rua em abrigos "onde são forçados a receber tratamento psiquiátrico". Mas vamos às expressões:

"uso recreacional" - expressão usada para designar o usuário de droga que dela não é dependente. Faz dela um uso recreativo. De fato, há notícias de inúmeros executivos, empresários, artistas, políticos e até juízes que se utilizam de drogas sem serem dependentes químicos;

"populações indesejáveis" - expressão que contempla pobres, mendigos, prostitutas, homossexuais, menores carentes abandonados, etc., cuja permanência ou exposição nas vias públicas não agrada aos olhos;

"discurso demonizador" - dizer que o crack é o maior problema do Brasil é atribuir-lhe um poder satânico que ele não tem. Trata-se de uma droga como outra qualquer, com a diferença de que a "compulsão pelo seu uso se dá de forma muito mais intensa". De fato, antes do crack temos a cidadania, a fome, a educação, a saúde, a moradia como problemas que ainda estão longe de serem resolvidos;

"redução de danos" - expressão usada para caracterizar o conjunto de estratégias destinadas ao atendimento às pessoas que não podem evitar o uso de determinada droga de forma alguma. Através do uso de uma droga mais leve, podem acabar se livrando de uma mais pesada;

"militarização de áreas pobres" - ocupação por forças civis e militares de áreas carentes sob domínio preponderante de responsáveis pelo tráfico de drogas.

Existem provavelmente muitas outras expressões que não estão aqui elencadas e outras ainda deverão ser cunhadas. Não só no campo do atendimento psiquiátrico, como em quaisquer áreas ou extratos do conjunto social. Conhecê-las não nos tornam melhores ou piores dos que não as conhecem. Mas trata-se de uma necessidade. Assim como é necessário conhecer uma pessoa pelo seu nome. Que pode ou não fazer jus ao que na verdade a pessoa representa.

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 23/11/2011
Código do texto: T3351509
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