Tecnologia

TECNOLOGIA

Aqui estou eu, sentado na mesa da sala de jantar com o mundo em minhas mãos e ao contrário do que possa parecer, nenhum prazer sinto nisso.

Informações das grandezas e pequenezas do mundo afloram ininterruptamente tal qual uma queda d'água. Olho sem emoção, grandes e pequenas tragédias e olas aos grandes feitos.

Vejo comentários dos mais diversos, desde aqueles com extrema fineza e discernimento, até aqueles de mau gosto e torpes. Todos comentam tudo, tal qual uma fofoca globalizada. Não há nessas manifestações qualquer contribuição de peso, apenas desabafos incontidos pela impotência de resolver sua própria existência, purgar pecados, descarregar frustrações e tentar assim encontrar um caminho para a felicidade infeliz.

A minha impotência e a frustração de não poder participar ativamente da solução de problemas e de participar plenamente dos momentos de glória exacerbam-se, e dou um “desligar” num repente de sanidade.

O celular apita e lá vem uma mensagem amiga de um amigo que não vejo desde o século passado. Será que é mesmo amigo? Amigos devem se ver amiúde e não a cada século. Amigos devem ser palpáveis e não sombra que se tenta abraçar.

Passa um tempo, e lá estou eu de volta ao mundo acessando minha rede de amigos, alguns que mau conheço e penso, estou enlouquecendo, minha mãe dizia para selecionar meus amigos, ter cuidado com as más companhias - eu dava grande valor a esses sábios ensinamentos – mas cresci e deixei de ter cuidados que se mostram agora ultrapassados. Tenho “amigos” nos quatro cantos do planeta e nunca me senti tão desamigado.

Sinto falta do calor humano, do abraço apertado, do beijo carinhoso,da voz, do aperto de mão forte, mas principalmente da presença presente.

Transporto-me a década de 60, embarco na Enterprise e encontro o Capitão James T. Kirk, teletransportando-se a outro planeta para mais uma aventura de Jornada nas Estrelas. Quando será que conseguirei participar da solução de problemas mais ativamente e encontrar meus amigos quando desejar, indo encontrá-los onde quer que estejam. Nunca, pois a Enterprise é a nave de exploração no século XXIII. Maldita tecnologia atrasada, na década de 60 eu tinha imaginação e conseguia sonhar....

PS: O teletransporte é a desmaterialização de um ser ou objeto e a capacidade de enviar suas configurações atômicas para outro lugar onde será reconstruído. O problema hoje é que se algo é teletransportado não retorna a seu ponto original. No século XXIII já estará resolvido.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 23/11/2011
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