PROFESSOR OU MISSIONÁRIO?
"A opção pelo magistério é missionária!"
"Ser professor é um sacerdócio."
"Ser professor não é profissão, é uma missão".
Essas e outras expressões semelhantes eu escuto há mais de trinta anos. E, baseadas nelas, o professor vem observando, a cada ano, seu contracheque ficar cada vez mais miudinho. E eu me pergunto: o que diferencia um professor de um médico, de um engenheiro, de um técnico em informática? Professor não é gente? Não tem necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde, transporte? Professor não tem família para cuidar?
A visão de que ser professor é uma missão, é um atraso para a consolidação profissional. O professor deixa de ser um profissional e, em seus ombros, carrega o peso de uma força transcendental para cumprir um “sacerdócio”. E é por isso que, ultimamente, tornou-se natural serem ameaçados, ofendidos e até espancados por alunos. A realidade hostil da sala de aula, a sobrecarga da jornada de trabalho, a desvalorização financeira contribuem para a morte de qualquer idealismo com a profissão. Mas, mesmo assim, o professor é um ser corajoso. Sim, porque é necessário uma dose muito grande de coragem para encarar uma rede pública de ensino falida, a baixa remuneração, escolas situadas em áreas de alto risco e a violência que já vitimou vários profissionais.
É comum ouvirmos mães de alunos-problema dizerem que não sabem mais o que fazer com o filho. Se os pais não podem com um ou dois filhos, o que sobra para os professores que têm que dar conta de trinta, quarenta alunos? Porque os mesmos que a sociedade chama de pivetes, ladrões, traficantes, os professores são obrigados a chamá-los de alunos e tentar redimir o que a família e a sociedade não conseguem. Ser professor, hoje, é ser pai e mãe, psicólogo, palhaço... Ser professor é uma profissão, não uma missão! Se professor quisesse ser missionário iria para um convento. Professor é um trabalhador digno de seu salário, a Educação é a base de tudo e bons professores são de extrema importância. Os pais e a sociedade querem e precisam dos professores, mas a grande maioria não deseja que seu filho seja um professor. Isso é a maior prova que o profissional da Educação é desvalorizado. Todo mundo sabe disso, principalmente os governos. Só que, entra governo, sai governo, e nada muda. De promessas a cabeça do professor está lotada, faltam políticas públicas e boa vontade para tornar realidade uma vida digna àqueles que têm em suas mãos o futuro dos nossos filhos.
Ser professor, hoje, é tarefa quase impossível! Quem de vocês quer ser professor?