Ode às Minas

É absolutamente fantástico quando você adora um lugar e depois de certo tempo, mesmo que motivado por interesses muito específicos e de trabalho, volta a ele. Assim para mim é, e talvez sempre seja, estar em Ouro Preto e Mariana. Várias vantagens e como enumerá-las com alguma lógica e coerência, já que estamos diante de tanta paixão?

Primeiramente, uma fuga plena da rotina, mesmo que azeitada por muito trabalho! Não deixa de ser bem interessante não ter muito compromisso com a informação. Deixar de ler o jornal ou assistir ao noticiário televisivo, o que significa não saber de balas perdidas; aumento da carga tributária graças ao fim de um tributo (por que quase tudo no Brasil parece um grande contra-senso?); escândalos políticos e coisas do gênero... de Platão à Raul Seixas cada vez mais me convenço que, de fato, a ignorância é uma bênção!

Um hotel, para variar, escandalosamente barato e sabendo da falta de recurso fica ao seu cargo alguma distração, de sorte que não faço por menos: uma trilha sonora de Beatles à Zeca Baleiro e a boa companhia dA Mulher de Trinta Anos (calma, refiro-me a de Balzac, que fique bem claro!) e estou pronto para os breves momentos dentro do quarto, até porque o que realmente interessa está lá fora.

E o que está lá fora é um clima romântico de passado. Como não se reportar ao século XVIII? A bruma densa das primeiras horas da manhã ou da alta madrugada deveria inspirar os ares de sedição e conspiração dos inconfidentes. Atmosfera essa que fizera um funcionário régio, que tinha lá os seus motivos, escrever que “a água exala motins; o ouro toca desaforos; destilam liberdades os ares; vomitam insolências as nuvens; influem desordens os astros; o clima é tumba da paz e berço da rebelião; a natureza anda inquieta consigo e amotinada lá por dentro, é como no inferno”. E que doce inferno, se me permite o Conde de Assumar! Ladeado pelo sagrado, com inúmeras igrejas para muitos santos e pedidos (que acredito, são todos realizados). Como não acreditar em Deus e/ou em Sua inspiração ao ter diante dos olhos a frente da igreja de S. Francisco em Ouro Preto talhada pelo gênio de Aleijadinho?

Sem contar que o mesmo lugar que outrora produziu em abundância ouro e os mais cobiçados diamantes ainda engendrou jóias do quilate do Drumonnd, Sabino e Beto Guedes. Isso para não mencionar a maravilhosa “pinguinha” mineira e uma comida – embora não muito afeita à “dieta-light-muderna” – absolutamente deliciosa! E como se não bastasse, será que mereço tanto, ainda encontro muito do que vim buscar aqui: feitiços e calundus. Parece estranho? Pode até ser... mas isso é uma outra história!

Dé Garfield
Enviado por Dé Garfield em 22/11/2011
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