"O Torresminho"

Desde cedo, observei que Dona Maria, uma senhora nordestina que nos auxilia. Até hoje não me acostumei a chamar ninguém de empregada, mas ela o é. Então como dizia, observei que Dona Maria, destrinchava algo na pia e ao me ver passar percebeu minha curiosidade e falou:- Seu Zé, hoje tem o que o Senhor gosta, carne de porco. Daquela hora em diante fiquei aos sobressaltos, não via a hora de degustar tal petisco. Mais ou menos por volta de onze horas o agradável aroma de toucinho me trouxe de volta à cozinha. Sobre a mesa estava enorme travessa de toucinho crocante e suculento. Peguei um prato, coloquei uma quantidade de toucinho, enchi um copo de café e me encaminhei pra o quintal onde iria saborear o manjar dos deuses. De repente minha carcereira, ou melhor, minha filha chega sorrateiramente e aos ah ah !!! Tomou o prato bem como o café de minhas mãos falando:- Papai, papai, o senhor não toma jeito mesmo eim! Qualquer hora vai morrer comendo este veneno. Pega sua sopa que já está esfriando, vou falar para a Maria ficar de olho no senhor. Voltei para a cozinha com enorme peso nos braços e nenhuma vontade de comer. A sopa se pode chamar de sopa, era uma água rala, sem sal, nem açúcar, enfim um sofrimento. Mas Maria falou:- Toma Seu Zé, peguei escondido para o Senhor, e me deu um guardanapo com um torresmo pequeno, mas muito saboroso que comi no banheiro, porque senão se minha carcereira quero dizer minha filha pega, joga no lixo na hora. Enfim meu dia se resume a esta rotina, remédio, dormir, dormir, remédio, às vezes vem alguém para me ver e se for criança já fala, não vão dar chiclete para o vovô que ele morre tá? Só não sabem que eu morri há tempos e fico pensando, será que hoje vou me libertar? Espero que haja algum lugar com qualquer coisa, céu, inferno, não importa, mas que bom se tivesse um torresminho.

Como você tratou seu pai ontem?
Se prepare para ser tratado assim amanhã.


OripêMachado.

Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 22/11/2011
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