O tempo não para

Estou fugindo, estou correndo.

Correndo contra o relógio, contra o tempo, sem fazer hora, para não perder a hora.

Por que será que tanto corro?

O tempo parece muito curto. Mal acordo, me entrego à rotina do cotidiano sem prestar muita atenção ao tempo. O tempo passa, não para, não espera. Lá estou absorto no trabalho de um projeto e o tempo não dá trégua. Não me espera terminar, não me dá tempo para pensar, para descansar.

O tempo passa correndo, passa voando e eu correndo não o alcanço. Estou sempre atrasado, sempre perdendo o tempo.

Ontem era menino, brincava aquelas brincadeiras antigas que os meninos de hoje acham sem graça, careta, o tempo tão depressa me deixando, sempre, com vontade de brincar mais. Mas o tempo passava e minha mãe me colocava na cama. A vontade e a brincadeira ficavam para o dia seguinte.

Imaginava que crescendo o tempo daria uma trégua, me daria um tempo.

E deu.

Na minha adolescência, ficava louco para o tempo correr, passar logo, tinha vontade ser adulto e tinha pressa. Algo bom parecia me acenar do lado de lá. E o tempo de repente ficou lento. Demorou a passar.

Quando adulto, voltei a brigar com o tempo. Tempo para isso, para aquilo outro e o curto tempo não dava. O meu dia era pequeno e a noite menor ainda. Queria dormir mais, estava cansado de correr para acompanhar o tempo que eu nunca alcançava.

Lá estava o tempo disparado à minha frente, estudos, trabalho, namoro e lazer. Lazer nem tanto, pois era muito pouco o tempo que sobrava. Era rápido, o tempo. Não me esperava, mas me levava atrás dele. Sempre na disparada louca de chegar. Aonde não sabia, mas queria chegar. Precisava chegar.

Chegou a maturidade. Não quero mais que o tempo corra. Não quero correr mais atrás do tempo. Quero que o tempo pare. Aliás queria mesmo que ele voltasse. Corresse ao contrário e eu pudesse alcançar o tempo de criança, de adolescente e o da juventude, esta passou tão rápida que nem pude notá-la.

Enquanto corria atrás da realização dos sonhos, para atingir meus objetivos, esqueci da mocidade. Não deu para aproveitá-la. O tempo correu mais que eu. Estava sempre correndo e eu atrás dele.

Que faço agora? Quando podia não segurei o tempo, deixei que passasse, deixei que voasse enquanto corria para alcançá-lo.

Eu podia tê-lo freado, fazê-lo ir mais devagar. Perdi o tempo de fazer o tempo maior, o tempo melhor. Queria que ele se fosse. Passasse logo, para, na minha impaciência, atingir o lugar que buscava.

Então? Como fazer agora?

Por favor, parem o tempo!

Quero descer.