...Mas o poste é dá luz!

A exatidão pretende implantar domínios através da certeza cega. Legado maquinal. Dualidades são atrativos da ordem menor dos fatos. Veste-se de homenzinho humilde, pacato, lutador feroz, posto que silencioso. Alguém que mora na casa nova, ainda sem número. Desenhamos seu fantasma com as linhas constitucionalíssimas. Caso de ser pacífico em seu todo de berimbau sem corda.

Item primeiro de seu estado civil: Torcedor fanático. Solitário. Leitor. Escriturário aposentado. Guarda de seu apenas dois livros: A divindade e O poder dos números. No espelho possui duas almas. Uma de arquivo, aquele arquivo que ele guarda para consultas de consciência. Outra integral de controle dos numerários parcos. Estilo quase de comerciante previdente.

Após a sopa instantânea dorme na casa alugada que devolverá em seguida, tendo o siamês que também dorme elasticamente ausente, ao lado da televisão; quando não do rádio. Dorme em síntese todos os olhos da alma: Eternidade é tudo o que sonha.

Brasileiro. Sujeito sem computador nem computação ainda. Nos anos setenta fora comedido, calado, precavido. Nem partidário dos amarelos, nem dos azuis. Aposentado. Conseguiu comprar uma casinha. De madeira, pinus. Alvenaria? Apenas na base. Suou sangue para quitar as hercúleas prestações. Emagreceu de a gorda ter lhe chamado “saco de ossos” num atrevimento condensado de malícia. Em outubro dera início e em janeiro o chalezinho estava soberano na esquina. Mas sem luz. Nenhum pingo de energia elétrica. A única energia que existia era do gato das pilhas do gato.

Despediu-se do dono contíguo da casa de aluguel. Distribuiu entre eles uma caixinha de patuás que guardara da viagem que fizera a Bahia, tempo atrás. Todos esboçaram simpatia, mas simpatia reservada, vestida de cinza ao momento de adeus sem mais prestações.

Entregou a casa de aluguel que morava porque havia conseguido construir. Era um herói nacional. Viveria seu último dia perto do mar como sonhara desde os tempos de Matilde. Seu único amor, finado numa tarde linda de sol e pranto. Agora calculava sua evolução com o peso de um retrocesso. Tirando a comida, o liquinho e a fossa; estava falido. Teria que viver sem luz e sem poste.

Procurou o atendente da compania de energia. Tentou argumentar sobre a ausência de parceria... O atendente foi enérgico sobre o espanto do poste privado. “Quer dizer que ao fazer a mudança cabe ao dono do imóvel levar consigo suas malas e o seu poste?” O homem redarguiu. “Poderia levar o cachorro também se lá estivesse amarrado. O poste é seu”. Retornou para casa sem luz aos sessenta e nove anos de idade...E sem poste.No escuro e apenas com o lume do cigarro pitado exclamou rindo: mas o poste é dá luz! *

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 22/11/2011
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