Dia 20 de novembro é o dia comemorativo da Consciência Negra, em todo o país. A data é um marco, porque refere-se à morte de Zumbi, símbolo da luta contra a escravidão, sendo ele um dos principais representantes da resistência negra, na época do Brasil colonial.
A data me fez voltar à minha infância e adolescência. Como desejei ter nascido menino para usufruir de alguns privilégios, sendo um deles o direito de subir à Serra da Barriga. Meu irmão se aventurou e foi, com a permissão de papai, e eu fiquei desolada, frustrada, porque não era passeio para menina. É bem verdade que isto aconteceu por volta de 1963. Meu irmão Edmundo e seus amigos voltaram exaustos, arranhados, já que entraram por mata, sem haver trilhas limpas que permitissem o fácil acesso. Depois entendi a negação do meu pai ao meu desejo.
Certa vez, passando uns dias de férias na fazenda Timbó, nos arredores de União dos Palmares, sentia-me embevecida com a visão próxima da Serra da Barriga. Só avistava a Serra de longe, nas minhas viagens de trem, de Maceió para União e vice-versa. Admirar o contorno da Serra, imaginar o que lá se passou me deixava curiosa, pensando como teria sido a vida dos quilombolas e, particularmente, a de Zumbi, com seu amor, sua liderança, sua luta, seu carisma, sua sobrevivência e comando na distribuição de tarefas de um grande grupo que confiava nele e sabia da sua competência para administrar e defender o quilombo das investidas contínuas de grupos armados enviados pelo governo pernambucano.
Li que o Quilombo dos Palmares chegou a reunir entre 20.000 a 30.000 negros. Como conseguir ser um dos maiores quilombos? Quando Pernambuco foi invadido pelos holandeses, em 1630, muitos donos de engenhos foram obrigados a abandonarem suas terras e os negros, vindo da África como escravos, fugiram para alguns locais que eram organizados como quilombos. Nestes quilombos eles eram livres, podendo pescar, viver de acordo com a cultura africana, cultivar a terra e alguns buscavam alimentos em algumas fazendas, o que deixava seus senhores furiosos. Houve inúmeras tentativas para acabar com os quilombos, inclusive havia a vontade de recapturar os negros para voltar a ter mão de obra escrava.
E Zumbi? Tinha sido, desde os sete anos, criado por um padre, alfabetizado, aprendendo, inclusive, a religião católica. Ao completar 15 anos fugiu para o quilombo, chamado Macaco. Aos 25 anos passou a ser o líder, com saber das várias técnicas de guerra.
Domingos Jorge Velho, no ano de 1694, ataca o Quilombo dos Palmares, conseguindo dizimá-lo totalmente. Zumbi, mesmo ferido, consegue fugir. Um ano depois é traído por um companheiro, sendo capturado e é morto em 20 de novembro de 1695.
Sendo palmarina, tenho orgulho de ter nascido em uma terra histórica, palco de um uma comunidade que representou uma luta pela sobrevivência, combate à escravidão e amor à vida livre, direito natural de todo ser.