Lelo: Uma vida plena.

Nascido de gravidez complicada, e parto difícil, Alessandro, o Lelo, já veio meio que desenganado pelos médicos. Sua mãe havia sofrido um acidente durante a gravidez, e o bebê trouxe as seqüelas consigo. “Vão gastar rios de dinheiro com ele”, decretou uma enfermeira. Aos meus noves anos, passei a olhar àquele bebê, meu sobrinho, com esta expectativa, desde 1970. Em dois anos, aquele bebê sofreu transformações análogas á borboleta. Seus cabelos loiros e cacheados, a pele alva, o rosto corado, e o desejo de viver em plenitude foram absolutamente cativantes. Desnecessário mencionar o espírito de proteção que despertava nos tios; espírito este acentuado um pouco mais tarde com a perda prematura de seus pais.

De infância feliz, mas juventude tumultuada, foi criado em meio ao amor de suas irmãs e tios, sempre trazendo preocupações e dúvidas, mas, principalmente, trazendo muito amor e alegria por termos um ser frágil, mas de bom coração, e de um caráter tão raro, no seio da sua família. A confiança depositada em mim era desconcertante, ao ter que ensinar o que tampouco sabia. Uma noite, consolando-o em suas angústias, segurando a mão de um moço em crises pelas suas dificuldades, tive de lhe confessar que eu não era Deus, pois se assim fosse, eu o teria livrado dos empecilhos que tinha para levar a vida plena que merecia; só o deixei ao ver que o seu coração havia se aquietado e adormecido, e pude sentir um pouco o que era ser pai.

Na minha ignorância deixei de perceber que Alguém nos ouvia, e que realmente o futuro á Ele pertencia. O Alessandro se casou, teve uma linda filha, que, hoje, aos 18 anos, é doce como o pai, e teve uma esposa que lhe proporcionou o que sempre quis: Uma vida plena, num casamento feliz, que muitos podem viver até os 70, 80 anos, mas nunca conseguirão ter igual. O pranto de tantas pessoas, alguns desconhecidos, em seu funeral, demonstrava como era querido. A morte fulminante de ataque cardíaco foi a passagem dos justos, o prêmio dos puros de coração, e aos 41 anos pareceu prematura, mas não para quem a esperava desde que ele nasceu. Aos que ficaram, a dor inconsolável da saudade eterna, e a gratidão profunda a alguém que, tal qual a borboleta, encantou as nossas vidas. Descanse em paz, meu filho.

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