AS FILAS NÃO GOSTAM DE MIM

AS FILAS NÃO GOSTAM DE MIM.*

Não gosto de filas e as filas não gostam de mim e nossa convivência sempre tem sido difícil. Sempre escolhi as filas erradas, ia nos bancos olhava quem estava na fila, analisava e escolhia uma e certamente era a mais demorada. Criaram a fila única, fiquei feliz, até descobrir que quando ela não está muito grande, tiram funcionários dos caixas e então todo mundo leva esfrega. Muitas vezes em festas deixei de comer ou de beber por ter que pegar filas, é humilhante embora seja racional. Dentro do possível me afastei delas, com um pouco de estratégia se consegue. Podemos escolher o dia mais certo, ou o melhor horário, ou trocar de mercado ou banco, mas a melhor tática e que sempre funciona é a de passar a bola, mandar alguém fazer o favorzinho. Assisti uma palestra sobre a ira, não adianta ficar bravo com essas coisas que o resultado não muda. E após essa palestra fui em Jundiai entregar um exame no INSS, fui cedo, sabendo que só atenderiam meio período, isto é, a partir do meio dia. Olhei vitrines, li o possível exposto em bancas de jornais, sentei na praça, até que chegou a hora. Meio dia e dez entrei no local do exame e percebi que me enganei, é meio período, atendem das oito horas até meio dia. Antes da palestra eu entraria em desespero, mas simplesmente fui embora para voltar no dia seguinte. Gostei do resultado. Tento aplicar a tática no supermercado próximo de casa, mas o cara tem que estar muito zen, pelo contrario a pressão sobe. Não sou supersticioso mas que tem “coisa” nos caixas isso tem, não consigo passar incólume nenhuma vez. Se a fila tiver quatro pessoas na minha frente e na outra fila tiver dez, os dez passam e eu fico. Outro dia a moça do caixa me aguardava com um sorriso simpático, não havia ninguém na fila, me senti bem, mas o sistema travou, em outra oportunidade idêntica um produto que peguei estava sem identificação.Na semana passada tudo corria na mais perfeita ordem até que chegou a vez da pessoa que estava na minha frente pagar e a mulher pagou tudo em moedinhas foi um tormento até fazer os montinhos e contar. Sou privilegiado, posso usar a fila prioritária para idosos, mas não sou nem louco de tentar, acontece que minha turminha a turma da terceira tem dificuldades, tremedeiras e amnésias e por isso a fila não anda mesmo. Hoje levantei zen, me preparei espiritualmente para fazer o documento do carro, fui ao banco com a coragem e disposição de quem tem que enfrentar um leão, tirei senha, havia poucos na frente, foi mais fácil do que poderia esperar, mas no caixa me informaram que o documento para pagamento deveria ser impresso nos caixas eletrônicos, lá mesmo onde passei que tinha uma fila enorme, e lá fui eu. Consegui meu troféu, mas o valor a pagar era maior do que dispunha no momento, fui ao outro banco retirar dinheiro. Chegou minha vez, o caixa travou, mudei para outro, o valor permitido era menor do que eu precisava. Voltei ao primeiro banco passei pelo processo novamente, cheguei ao caixa e após três tentativas a funcionaria informou que o sistema estava momentaneamente fora do ar. Ela falou com um sorriso doce, como se não fosse nada de mais, então lhe devolvi o sorriso e disse “está bem volto depois”. Me considero um vencedor, consegui pagar o documento, não me desesperei, percebi que estou usando filas para treinar auto controle. Estou seguro que vou vencer.