Crônica do conectado

   Minha vida é um tormento. Meu celular comprado há uma semana já me causa vergonha. Seu designer já é coisa do passado; imagine que ele não está conectado à nuvem... Como posso ser feliz assim, tão alienado? Meu notebook, com seu processador de última geração anda tão lento, que posso até piscar antes dele carregar a página do facebook; mas o que posso esperar de alguém como eu, que não tem i-pad ou i-phone? Que ainda assiste a uma tv sem conversor digital integrado? Ainda não deixei meu nome na lista de espera do carro coreano mais esperado (em verdade não sei se é bom de verdade, mas isso é o que menos importa...); como posso vacilar assim? Não tenho sky, e, portanto não tenho para onde ir ou mesmo a quem receber de volta. Detesto lutas, mas preciso comentar as lutas galvanizadas do ufc; quem sabe pode até cair no enem... Tenho viajado muito ao redor do mundo, nas páginas da web, mas acho que estou saindo pouco do quarto. Já fiz muitas namoradas digitais, e as conheço profundamente, mas em verdade não sei se são altas ou baixas; nos próximos chats, vou me lembrar de pedir a elas para se levantarem da cadeira... Meu melhor amigo mora na Rússia; nunca nos encontramos, mas ninguém joga playstation como ele; o tradutor do google elimina todo e qualquer problema em nossa comunicação (ou quase todo). É certo que ele tem um pouco de dificuldade com a geografia, pois acha que tenho que proteger meu pc dos tigres de bengala, mas o que eu poderia esperar de alguém tão acostumado às feras do continente oceânico? Seria pedir muito...

 
   Bom, acho que estou um pouco esquisito após vinte e cinco horas conectado; na verdade tenho umas protuberâncias estranhas aqui no quadril, que vem aparecendo nos últimos meses; nem me lembro se me alimentei hoje, mas esses spams acabam me tirando a fome; amanhã mesmo vou pedir por e-mail um china in box ou um pizza hut... Será que eles entregam ainda essa semana? Fui...

 
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 21/11/2011
Código do texto: T3348449
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