MEU AMIGO JOSELITO

Tudo começou naquela manhã de dezembro no início dos anos sessenta. Pela primeira vez eu via o sol nascer no sertão da Bahia. Dona Rosa acordou todas as alunas e eu, para tomarmos um cafezinho rápido pegar as nossas coisas e rumar para a fazenda chamada,Barra de Dona Rosa, acompanhados da Senhora chamada dona Elmira . O grupo era formado quase todo de meninas. Lembro-me de alguns nomes delas: Joana, Lurdinha , Rica etc..Cleómenes, parente de Jurandir Assis e eu, éramos os únicos meninos do grande grupo de meninas que estava indo passar férias na fazenda. O sol ainda descortinava no ceu azulado soltando os seus raios talvez, mais avermelhados do que amarelados. Quando olhávamos para trás, lá da curva da rodagem, enquanto cruzávamos a cancela e já passando pela grande curva da rodagem, dava para ver o astro-rei enquanto Santa Maria ficava para trás.

A caminhada seria longa e de fato foi longa. Cerca de seis quilômetros da cidade. Assim que deixamos a rodagem, e entramos em um caminho sinuoso de cuja pavimentação era um areão tremendo,a medida que caminhávamos, dava para observar as matas cheias de árvores, pássaros cantando e voando, muitas borboletas, muitas formigas, calangos correndo de lado a lado,e, enquanto isso, as curvas da estradas ficavam para trás, ao mesmo tempo que outras curvas surgiam pelo caminho à frente.

Finalmente avistamos uma primeira casinha do lado esquerdo da estrada e logo à frente, uma cerca de arame com uma pequena cancela.

Ao chegarmos na cancela, um Senhor de nome Hoterlino, veio deu-nos as boas vindas abrindo a porteira, e logo deu para ver um grande curral do lado esquerdo, a manga de gado que começa da parte alta e depois descia para a baixada de onde podíamos descortinar uma lagoa e, ao lado dela , um belo rio de águas esverdeadas por causa do reflexos das matas, correndo rapidamente fazendo curvas sinuosas. Dava para vermos uma infinidade de árvores grandes e frondosas. Tempos depois aprendi que eram juazeiros, pés de jatobás, baraúnas, goiabeiras, jenipapeiros, araticuns cagões,pitombeiras.

Depois de passarmos pela primeira casa, onde morava Hortelino e sua esposa Ana, passamos por uma casa que ficava no meio do caminho. Do lado desta casa havia um pé de chicha , e lá morava o casal Terto e dona Idalina com o seu filho caçula, e , finalmente chegamos na casa da dona Elmira, casa esta que seria ou melhor, poderia ser chamada de casa dos horrores, porque nós sofremos e comemos o pão que o diabo amassou, na mão de dona Elmira e sua Filha, A professora Izabel.Jesus!!!

Foi nestas férias que eu conheci uma pessoa que seria uma espécie de irmão por toda a minha vida! Não só ele, como a sua Irmã, Detinha, que, naquele época morava em Salvador mas que chegaria nos anos seguintes para fazer parte de uma grande família, no colégio de Dona Rosa. A pessoa de quem estou falando é justamente o caçula de seu Terto e dona Idalina. O nome dele é Joselito. Chamado carinhosamente de Negolito. Ele foi o nossos companheiro naquelas férias na fazenda.Era o companheiro de Cleômenes e eu.

A partir desta época, convivendo na fazenda e depois no internato e fora dele a nossa amizade continuou. Certa vez, por minha culpa , já na adolescência quase que nos transformamos em inimigos, mas Maria e Ana nos fizeram ver que nós éramos como irmãos e, que não poderíamos nos transformar em inimigos .E graças a Deus que isto não aconteceu.

Lito em tudo era melhor do que eu ou fazia melhor do que eu. Quando Padim Berto nos ensinou a usar arco e flecha, ele aprendeu primeiro. Pescar piabas no rio, ele pescava e eu não conseguia. Tocar tarol e bateria, ele tocava melhor do que eu e aprendia melhor do que eu. Jogar futebo,l ele jogava melhor do que eu. Certa vez, ele, ainda criança, havia um conjunto de nome, Os Jovem, de propriedade de Rui, filho do Maestro Joaquim Lisboa, o baterista Flávio, deixou ele tocar na bateria e foi um verdadeiro show. Lito, desde a adolescência já lia bons livros e inclusive os livros de Osório Alves de Castro, ele leu primeiro do que eu. Eu nunca senti inveja de Lito, por ele ser melhor do que eu em tudo. Na verdade, eu era um ano mais velho do que ele mas, talvez por não ter um irmão de sangue, no íntimo ele passou a ser um para mim. Já existia um carinho muito grande por parte de dona Idalina e seu Terto. As irmãs na verdade eram como nossas irmãs. Ana, Neuzinha de saudosa memória, Detinha, Maria e o Mano Zé.

Hoje reencontrei o Joselito virtualmente, mas sempre tive notícias dele através dos muitos amigos que temos em comum em Salvador. Vi as fotos da linda família que ele tem. A sua filha Brisa, deixou os meus olhos marejados quando eu vi a foto dela. Trouxe à memoria uma das irmãs de Joselito. E foi a partir deste momento que me dei conta de que jamais poderia deixar o passado de lado.

Existem muitas histórias engraçadas envolvendo Joselito, a turma do internato e eu. Uma delas posso contar agora. O nosso quarto ficava logo no começo do prédio do internato. Na madrugada ninguém tinha coragem de ir aos banheiros, pois os mesmos ficavam nos fundos, e o medo de assombrações fazia com que ficássemos com a bexiga cheia. Eu mijava na cama mesmo durante o sono pesado. O Pedro, um garoto de Côcos, mijava em cima de alguns de nós sendo desmascarado pelo Mauro dias mais tarde; Já o Mauro abria um pouco a janela, colocava o pinto para fora e mijava no jardim no pé da janela; Já Joselito mijava nos sapatos de plásticos que ficavam embaixo das camas. Como dá para ver, e nossa vida no internato era cheia de histórias. E existe muitas delas que se contássemos, daria um romance. Mas , com certeza novas histórias serão contatdas aqui no RL.

Joãozinho de Dona Rosa.