A invenção da mulata




 
 
                        Meus amigos,  hoje quase entrei em pânico. Explico logo:  o Paulo Rego, carioca da gema,  me disse por  email que iria falar sobre o carioca.
                        Do alto dos seus 82 anos ,  com saúde invejável e ainda por cima carioca, fiquei atônito:  “ele vai contar o diabo dos cariocas”.  E vocês sabem a fama dos cariocas...
                        Começando pela Lapa e chegando nem sei aonde mais, onde iria parar o nosso Paulo?
                        Ele me dá o sinal pelo computador: “ postei a crônica, vá lá ver”.
                        Gelei, quase tive um enfarte. Ele vai contar todas as estripulias dele.
                        Comecei a ler a crônica. Aquela paixão de carioca típico. Foi exaltando tudo: praias, bairros, músicas,   o escambau, falou da Lapa,  “en pasant” . Ainda bem, pensei  eu.
                        De repente, ele menciona a mulata. Petrifiquei!  E afirmou que o carioca inventou a mulata.  Quase desmaiei. Bom, pelo menos não disse que foi ele quem inventou a mulata.        Menos mal, não haveria problemas com a Da. Lee, a esposa dele.
                        Foi aí que me lembrei  do meu amigo Eloy  Rosa, já coroa,  e sempre com uma noiva novinha. O da foto de camisa vermelha se parece com  ele.  Fim de semana, era batata:  - alô, gilberto, estou te convidando pra mais uma feijoada, com roda de samba e tudo a que a gente tem direito, lá na casa da Esmeralda, em Bento Ribeiro. Desligo!
                        E lá ia eu ao encontro do samba, da feijoada e das mulatas do samba nesse nosso Rio, moleque!
                        Queria, apenas,  nesse meu humilde recado dizer e confirmar  ao Paulo Rego que a mulata foi inventada no Rio de Janeiro, sim.  E posso afirmar que quem inventou foi o Eloy Rosa, ou pelo menos mantém a tradição até hoje,  um  negro alto , forte e simpático, que fez e ainda faz as delícias das sambistas do Rio.
                        Quando estava terminando este recado, o Ciro, outro carioca, me telefona e me implora pra contar aquela do Pão de Açúcar com o Eloy. – mas, o Ciro, o pessoal vai achar que nós cariocas somos irresponsáveis!  -  Que nada, que nada. O pessoal gosta desse nosso jeito. Conta, conta...
                        Bem, diante dessa "amigável  pressão" do amigo, devo dizer que numa daquelas rodas de samba, já anoitecendo, alguém grita:  - pessoal, a fulaninha vai casar amanhã, vamos fazer a despedida de solteira dela!
                        Não preciso dizer que a turma toda, comandada pelo Eloy, foi parar no Pão de Açúcar. E o “futuco-te-futuco” do samba foi até o amanhecer.
                        Para que não pensem mal de mim, explico que fiquei no primeiro morro do Pão de Açúcar, o morro da Urca, conversando com a irmã da noiva sobre a “extrema leveza de ser carioca”. É, pessoal, já estava começando a ser filósofo, “sacumé, né!”
                        Na hora do casório, os sambistas todos, na maior seriedade, estavam reunidos na Igreja para os cumprimentos aos noivos.
                        Hoje, se me perguntarem sobre o Eloy Rosa, digo que o homem continua coerente e carioca dos bons.
                        Sim, ia me esquecendo, continua noivo...