LIVROS INESQUECÍVEIS
Tem coisas que marcam a vida da gente. Acho que poderia ter um seis anos de idade, mas lembro como se fosse hoje de uns velhos livros encapados com papel madeira que meu saudoso pai guardava dentro de um armário de madeira que só ele tinha a chave. Acho que era trancado não exclusivamente pelo valor dos livros, mas porque era lá que ele mantinha o apurado da sua loja de tecido para depois levar ao cofre ou ao banco.
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Entre essas obras lembro bem de “Dom Casmurro” de autoria de Machado de Assis e “Ironia e Piedade” de Olavo Bilac. Minha mãe também tinha suas leituras preferidas. “A Moreninha” ,de Joaquim Manoel de Macedo, estava sempre passeando em cima dos móveis como se ela esperasse um tempinho para continuar a leitura. Foi assim que cresci. Entre livros e pessoas que valorizavam a boa leitura.
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Meu pai costuma recitar poesias. Uma delas ficou impregnada em mente. Principalmente o trecho que dizia: quando somos jovens as esperanças vão conosco a frente e os desenganos vão ficando atrás, mas quando a gente avança um pouco mais na vida os desenganos vão conosco a frente e as esperanças vão conosco atrás. Era mais ou menos assim.
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Toda essa recordação se deu pelo fato de que hoje eu tive que lançar mão de um trecho do livro de Olavo Bilac - Ironia e Piedade, um desses livros que fazia parte da resumida biblioteca de meu pai: “Ora falta a taça, ora falta o vinho”. Pois bem, estava com a cabeça cheia de mensagens pronta para escrever crônicas há alguns dias atrás, mas me faltava o tempo. Hoje que estou com todo o tempo do mundo, a inspiração se foi – Ora falta a taça, ora falta o vinho. Tive a curiosidade de pesquisar na internet a data dessa obra de Olavo Bilac e cheguei a conclusão que ela foi publicada em 1916. Daí, a curiosidade foi aguçada e eu fui pesquisar o autor do poema que fala sobre esperanças e desenganos. Num é que descobri que é de autoria do Padre Antônio Tomaz, natural de Acaraú (1868-1841) e o poema é denominado “Contrastes”.
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Muitos anos se passaram, muita coisa rolou, mas as palavras ditas e bem ditas ficam marcadas. Um dia meus filhos vão relembrar o quanto falei de Fernando Veríssimo, de Marta Medeiros, de Rubem Alves e quem sabe transcreverão algumas frases ou algumas palavras dos autores contidas nas obras que estavam, não trancados num armário, mas soltos, espalhados nas prateleiras do meu quarto de estudo, largados na escrivaninha de minha pequena biblioteca, sempre disponíveis tal qual o livro “A Moreninha” , persuadindo a uma boa leitura.
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