Por que não me mato?
Essa semana com toda certeza não foi minha melhor semana. Diante de uma série de coisas dando errado fui tentado a pensar como Murphy e aceitar sua lógica de que “se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível”. Se algumas coisas (e parece que são a maioria) na vida estão predestinadas a dar errado porque continuar insistindo em tentar fazer com que elas dêem certo? Se a vida é essa sucessão de fatos, onde parece que os fatos ruins se sobressaem aos bons, por que levantar todo dia? Essa realmente foi uma semana desgastante onde pensei em me entregar ao pessimismo do “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”.
Nessa mesma semana me deparei com a biografia do Kurt Cobain. Li algumas páginas, principalmente a de sua carta de suicídio. Kurt termina sua carta e vida dizendo que “é melhor queimar do que se apagar aos poucos”. Ele conseguiu tudo, chegou ao topo do mundo, mas isso não lhe foi suficiente, por isso resolveu “queimar-se”. Isso me fez lembrar Albert Camus que disse que “só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio”. E foi ele mesmo quem fez a pergunta que considero a mais intrigante de todas, “por que eu não me mato?” Se a vida é um quadro preto e branco por que não nos matamos? Por que termino essa terrível semana e começo outra que pode ser tão terrível quanto a que passou?
Mas nessa semana me deparo com outra leitura. Li o apóstolo Paulo escrevendo a igreja que estava em Roma dizendo que “toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto” (Rm 8.22). Se até mesmo a natureza está condenada a dores o que será de mim então? Paulo me respondeu falando que não só a natureza, “mas nós mesmo, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). Pois é, parece que a vida é mesmo isso, gemer e gemer. Mas então por que não me mato? O mesmo Paulo responde, por causa da esperança (Rm 8.24). A razão pela qual não me mato e do por que acordo dia após dia é que tenho esperança. Por que encarar mais uma semana após passar por uma das piores que tive até aqui? Porque tenho esperança, afinal de contas “os miseráveis não têm outro Remédio a não ser a esperança”.
Esperança de que em algum momento as coisas possam ser diferentes do que são agora. Sobre a esperança Martin Luther King Jr teria dito que “devemos aceitar a decepção finita, mas nunca perder a esperança infinita”.
Se eu pudesse encontrar Camus eu responderia a ele que não me mato porque tenho esperança. E quem não tem esperança nem precisa se matar porque já está morto.