KENTINHA SIM, CHIFRUDA NUNCA.
MILTON LOURENÇO
09/11/2011
Assim que Edilsivânia chegou na pracinha as fofoqueiras de plantão começaram o maior “ti ti ti”. Fingindo que não estava nem aí, ela caminha em direção ao Quiosque do Betão, mas nem o Lula sem barba ou o Neymar de cuecas chamavam tanta atenção.
A respeitada esposa do Aderbal por mais que tentasse não encontrava a resposta. Tomou coragem, pediu uma coxinha e uma coca-cola, deu uma mordida e encarou os olhares. Mas não adiantou nada, a “muvuca” só aumentava. Chegou ao ponto de alguns até apontarem para ela.
- “Seu” Roberto o que está acontecendo? Até parece que sou mais um político corrupto que foi descoberto numa CPI. Detesto política e nunca fui nem presidente de Bairro.
- Liga não Dona Edilsivânia... Esse povo não passa sem uma fofoca. Se esquentar é pior.
Diz Betão, tentando disfarçar para não perder a freguesa de todos os dias. Ele sabia o que estava acontecendo, mas homem que é homem não entrega o outro.
De tanto olhar para a rodinha que se formava perto do Quiosque do Betão, Edilsivânia custa a acreditar no que estava vendo. Não era possível! Isso era traição demais. Até a Creuza e a Luzinete, as suas duas melhores amigas, estavam naquele “bolo”.
- Suas “traíras” dos infernos. Até vocês... Depois dizem que são minhas amigas. Desembuchem logo. O que é que tá pegando? Por que tá todo mundo me olhando?
Creuza e Luzinete tentam justificar, mas no fundo elas só queriam mesmo era colocar mais “lenha na fogueira” da coitada chifruda. O estrago já estava feito, só restava contar tudo.
- Amiga, calma. Muita calma nessa hora, mas o papo é um só. Você é a mais nova chifruda da praça. Viram o seu querido Aderbal com uma “piriguete” mal arrumada, entrando no “KENTINHA PRA VIAGEM”. Eu ia te contar, mas não te vejo desde terça feira.
- O que vocês estão dizendo? O meu Aderbal com uma piranha naquele motel? Ele nunca me traiu. Como isso pôde acontecer? Onde foi que eu errei?
- Liga não boba... Os homens são assim. Eles estão sempre em busca de aventuras; além do mais, quem viu disse que não passa de uma “mocréia” de quinta categoria, gorda e muita mal arrumada. Seja superior minha filha. Seja superior... Não se deixe abater por essa vagabunda.
Diz Luzinete, tentando colocar a chifruda pra cima.
- Liga não é o cacete... Falar é fácil. Queria ver se fosse contigo. Quando ele chegar do trabalho a “jiripoca vai piar”. Ah! Se vai. Ou eu não me chamo Edilsivânia Toledo Brandão.
Pronto! O barraco estava armado. A chifruda engoliu o resto da coxinha. Pagou a conta. Amarrou a cara e como um caminhão sem freio foi direto pra casa esperar o maridão. A honra tinha que ser lavada. O pau ia quebrar. Ainda mais que a Lei Maria da Penha estava do seu lado, caso ele tentasse revidar. O safado ia ver com quantos paus se faz uma canoa.
- Oi amor, o seu Ader...
PLAFT!! A chifruda pegou de surpresa. A tamancada acertou bem no meio da boca, o traidor não disse nem o próprio nome. A segunda foi bem no pé do ouvido. Coitado do cara. Ainda meio tonto se abrigou atrás do sofá e tentou entender o que estava acontecendo.
- O que é isso mulher? Tu tá doida? Usou “tóxico”? Você não é nenhum Maguila nem Vitor Belfort de saias. Maldita hora que coloquei esse canal de lutas aqui em casa.
- Isso é pra você aprender a respeitar uma mulher de bem. Vai colocar chifre na sua mãe.
- O que você está dizendo? Endoidou de vez? Para de ver novela mulher, eu já te disse, isso tá te deixando paranóica. Que papo é esse de traição?
- Aderbal! Aderbal! Não me venha com conversinha de “cerca Lourenço” olha que eu ainda jogo água fervendo dentro do seu ouvido, seu miserável de uma figa. Já virei piada na pracinha e a coisa não vai ficar boa pro seu lado. Eu não sou babaca. Diga logo quem era a “mocréia” gorda, de quinta categoria e mal arrumada que entrou com você no motel.
- O que é isso meu amor? Que doideira é essa? Eu nunca te enganei. Juro... Juro...
- Seu mentiroso, não me enrola não. Seus juramentos não valem nada. Você já jurou me levar para as belas praias de Porto de Galinhas, mas nunca passamos da porcaria de Piúma. Eta lugar horrível! Com praias cheias de pobres metidos a besta, socados numa casa alugada. Piúma nunca mais... Aquilo é o fim do mundo... Até parece o Piscinão de Ramos, versão Capixaba.
- Que dia foi isso? Essas suas amigas “mal amadas”, que trocam de homem todo dia, estão com inveja do nosso amor. Vamos conversar. Abaixa esse cinzeiro de motel. Isso machuca...
Pronto! A casa caiu. Aquele cinzeiro de motel foi a “salvação da lavoura”. Aderbal começa a virar o jogo contra a enfurecida Edilsivânia. Era agora ou nunca. A revanche seria monumental. Ele, sentindo que estava por cima da carne seca, parte para o contra ataque sem dó nem piedade. Parecia o MENGÃO contra o Santos, naqueles 5 a 4.
- Você e suas taras sexuais. Eu te disse que aquilo era ridículo. Que papelão! Que “mico”, sua maluca sem noção. Vai pela cabeça dos outros e esquece o que faz. Eu te chamei pra gente comemorar em Piúma, mas você quis me ouvir? Quis? E agora sua idiota?
Junto com a casa, a ficha da menos enfurecida “tarada sexual” também caiu. Só restava tentar usar um recurso que todas usam quando estão nesta situação: chorar... Para, pelo menos, tentar sensibilizar o maridão, que abrindo o armário do quarto retira a mini saia de oncinha, a blusinha de viscose, a sandália prata (tipo gladiador) e o outro cinzeiro daquele ridículo motel “KENTINHA PRA VIAGEM”. E diz com todas as letras, em alto e bom tom:
- A “mocréia piriguete” gorda e mal arrumada era você, Dona Edilsivânia Toledo Brandão. Sua maluca, onde já se viu comemorar aniversário de casamento fazendo “sessenta e nove” naquela “espelunca” com essa roupinha ridícula.
E agora? Contar a verdade para as amigas seria o fim, mas se não contasse, a fama de chifruda seria bem pior. Mulher esperta sempre sai por cima. Toda “melosa”, ela diz:
- Aderbalzinho que tal agente mudar amanhã pra Piúma? Porto de Galinhas é tão longe...